Atingidos pelos Reflexos...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

As flores estão perdendo...

A cada novo ano o espetáculo se renova no mês de setembro. A chegada da primavera acrescenta brilho especial ao evento.

Compensa visitar a expoflora em Holambra/SP. São milhares de visitantes que passam pelo local todos os anos. Caravanas e mais caravanas. Os tamancos holandeses. As comidas típicas. Os grupos musicais. As danças dos adolescentes e jovens, com suas roupas típicas e seus ritmos holandeses, agradam e geram a leveza que só a música e as flores conseguem produzir. A parada das flores com a "chuva" de pétalas atrai a multidão hipnotizada pelo belo.

A alegria, lhaneza e empolgação dos responsáveis, cativa. A possibilidade de comprar mudas de variadas espécies, com exceção das frutíferas, proporciona excelente oportunidade para se renovar o jardim caseiro. Holambra se destaca pela produção e exportação de flores. Além de manter um pedacinho da Holanda dentro do Brasil, persiste em alimentar a ligação das novas gerações com as raízes ancestrais. Isto é excelente.


No início da expoflora a primazia era das flores. Aos poucos foram aparecendo expositores de produtos relacionados às flores e jardinagens. Hoje é possível comprar de quase tudo na expoflora. Os espaços foram "invadidos" sorrateiramente e hoje sobra pouco para as flores. Ano após ano a ênfase diminui quanto às flores. Aumenta o comércio. A sociedade consumista e fria do nosso tempo está perdendo a atração pelo belo. Já não compomos música. Não escrevemos poesias como há alguns anos. Preferimos a frieza dos torpedos à doçura de uma declaração de amor.

O mundo está cada dia mais triste. Menos comunicativo. Mais agressivo. Explode em violência em todos os setores. Até mesmo nas Igrejas, lugar onde a paz devia reinar vemos a guerra. A beleza da vida está murchando. Como as flores cortadas para formar arranjos, mas sem a seiva da vida. Como é triste um arranjo de flores murchas.
A necessidade de sobreviver rouba-nos a alegria de viver. Claro que a culpa não deve ser debitada aos mantenedores da expo flora. Eles são apenas vitimas, como todos os demais humanos que formamos esta geração triste e agressiva. Não há mais tempo para cuidar de jardins. Não plantamos flores. Preferimos adquiri-las em vasos ornados sem sensibilidade.

Cuidar de uma orquídea exige paciência. Muita paciência. Aguardamos um ano e às vezes ela não floresce. No seu dormitar parece zombar das nossas expectativas de cultura de microondas. Por isso ela floresce uma vez por ano. Cultivar roseiras, nem pensar. Corremos o risco do espinho que devolve com dor o nosso labor. Eis a razão porque não temos mais jardins multicoloridos a enfeitar nossas residências. Em lugar das flores existem muros. Cercas eletrificadas. Olhos mágicos que nos auxiliam a perscrutar o desconhecido que bate a nossa porta. Até mesmo as praças das cidades não são mais ajardinadas e floridas. Prevalece o cimento frio. Algumas cercadas de grades. As entradas dos templos, há alguns anos, transmitiam mensagem de convite à paz. Hoje estão cercadas com grades. Algumas com arame farpado. O belo desapareceu das nossas retinas.

Usamos lentes escuras que nos impedem o êxtase do amanhecer ou do entardecer. Em algum lugar do caminho o ser humano deixou-se brutalizar pela frieza da violência.
Jesus teria dificuldades, caso andasse com seus discípulos por nossas ruas e estradas hoje, para parar e convida-los a contemplar os lírios do campo. Não há mais lírios. Não há mais flores no viver das pessoas. Até nas Igrejas as "flores" são artificiais anunciando a tristeza do culto. Por que comprar flores? Se o dinheiro pode ser empregado em objetos frios, sem vida e nenhuma inspiração. Vale o consumo em coisas que aparentemente possuem maior longevidade, mas não transmitem o encanto da vida. Apesar da incapacidade de falar de flores. Admira-las. Deixar-se tocar por sua mensagem de amor.

A primavera continua a nos convidar a parar e olhar com emoção as flores que ainda restam. São belas e frágeis. Lembram-nos a brevidade dos nossos dias. Sem questionar enfeitam a vida e nos convidam a agradecer a existência que o Senhor nos permite viver. Importante é florir. Perfumar o ambiente onde estamos plantados. Servir, sem questionar o preço que a vida exige para sermos úteis.
Flores pressupõem frutos. Transmitem fragrâncias. Dão coloridos ao ambiente. Amenizam a angústia da despedida. Geram esperança. Alegram o coração triste. Trazem recordações românticas. Marcam datas importantes. Do ramalhete que dá boas vindas ao recém nascido. Ao buquê que a noiva leva com emoção e esperança de felicidade. Os arranjos que enfeitam o altar. À coroa que torna menos lúgubre a tumba fria, com sua mensagem de saudades, às vezes gratidão, as flores, em silêncio, dizem que viver é desafio. Especialmente quando vivemos para servir sem esperar recompensa e gratidão. As flores não esperam uma palavra de apreço. Apenas enfeitam. Cumprem o seu propósito, mesmo que para consegui-lo precisem ser cortadas do caule. Separadas da seiva que mantém a vida. Morrem para sobreviver na lembrança do belo. Das emoções que geram lagrimas de gratidão pelo tempo que não volta. Ensinam-nos a não viver no passado. A não permitir a ansiedade do futuro. Pois tanto passado como futuro integram o vazio que jamais será preenchido.

Eis a razão porque Jesus nos convida a olhar as flores do campo. Convicto que o Pai criou o mundo florido para manter viva a chama poética de sua criatura. Nossos lares, ambiente de trabalho, escola e Igrejas deveriam exalar o perfume das flores. Impossível contemplar uma flor sem um sorriso de paz e alegria. A primavera é convite a esquecer o frio inverno. É tempo de cantar aquela canção, embalados pelas flores da esperança.

"Aparecem as flores na terra. O tempo de cantar chega..." Ct 2:12.

Pr. Julio de Oliveira Sanchez

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