Atingidos pelos Reflexos...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Samba da Benção !


“E de que adianta ter sempre razão, saber de tudo, se no fim o que nos resta é a solidão?”

Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete... Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.Melhor é ouvir a repreensão do sábio, do que ouvir alguém a canção do tolo.Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é o riso do tolo; também isto é vaidade.Verdadeiramente que a opressão faria endoidecer até ao sábio, e o suborno corrompe o coração.Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito.Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira repousa no íntimo dos tolos.Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta. (Eclesiastes 7)

Taí um texto bíblico que sempre me intrigou... Como pode o autor do texto dizer que a mágoa é melhor que o riso? Como entender que a tristeza faz bem para o coração? Como compreender, que é melhor estar num velório do que em uma festa?

Até que um dia, por conta de nossa trajetória natural de vida, me dei conta de que passei a freqüentar mais os velórios... Os cultos fúnebres de uma hora para outra, começaram a se tornar mais freqüentes em minha rotina.

E passei a entender que quando vemos o fim da existência, onde a tristeza e a solidão é algo natural, somos levados quase que inevitavelmente á uma reflexão sobre o sentido de tudo isso.

Penso: Momentos de tristeza e solidão nos fazem crescer. Seja por lutos ou pelas lutas da vida.

Vinicius de Moraes e Baden Powell, ao comporem o “Samba da Benção”, disseram o seguinte em um dos versos: “Mas pra fazer um samba, um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não”.

Nietzsche também nos faz refletir sobre isso. Para o filósofo alemão, as pessoas de espírito livre, os amigos da sabedoria, sabem ser tristes e sozinhas. São por inteiros somente em sua solidão, que para o filósofo quer dizer interioridade, conhecimento de si mesmo, mascarando-se do mundo; São para si mesmos, uma coisa muito diferente do que são para o mundo, pois a opinião dos outros é sempre um equívoco e ele, o filósofo solitário, regozija-se disso. Nesse caso, o filósofo só pode ser feliz em sua própria solidão. Entretanto, essa solidão não significa isolamento. A solidão do filósofo é a solidão em meio à multidão, é sentir-se único e, portanto, é amar-se a si mesmo. Outro filósofo alemão chamado Erich Fromm, admite, falando de amor, que “só pode amar quem sabe ser só”, isso vai ao encontro daquilo que Nietzsche fala, pois só se pode amar aquele que ama a si mesmo – amar a si mesmo é ser livre, liberdade para Nietzsche é ser responsável por si mesmo. Ora, aquele que ama a si mesmo não quer usar o outro como meio para se perder, se aliviar, se alienar, muito pelo contrário, amar a outra pessoa é achar-se nessa pessoa, mas para isso, é preciso um reconhecimento de si mesmo, é preciso daquela solidão nietzschiana. A meu ver, é preciso desmistificar o problema da solidão, saber ser só é saber viver consigo mesmo. O desespero por companhia, o desespero por “amor”, é uma fuga de si mesmo, ter medo de se conhecer…(http://ensaius.wordpress.com/)

Podemos concluir disso que a solidão e a tristeza têm seu espaço em nosso dia-a-dia. Produz em nós uma qualidade de vida melhor que nos leva a um patamar mais elevado no viver. Parece ser isso que o autor do livro de Eclesiastes, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Nietzsche e Erich Fromm entenderam.

Que o digam os salmistas. Coletânea de canções bíblicas que só existem por causa das agruras de seus autores. Música da melhor qualidade.


José B. Silva Junior
c/contribuição do Pr. Elinaldo Pita
da I.B.M em Sta. Bárbara D’oeste.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tristeza de pardal

“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” – João 8.36

Airton continua sendo o meu vizinho, do tempo quando morei no 128. Vez por outra o vejo, aos domingos, sentado no portão conversando com alguém: “E aí vizinho, tudo jóia?” Ele responde: “Tudo jóia, vizinho”.

É um antigo amigo. Um dia desses precisei dele: - “Vizinho, preciso de três ou quatro pardais para uma palestra. – “Claro vizinho”, deixa comigo”. No sábado, fui procurá-lo: – “Vizinho, disse ele, só consegui apanhar três fêmeas, mas estão com filhote e ficaram tristes. Precisei soltá-las, iriam morrer. Mas pode deixar que até amanhã dou um jeito”. Deu mesmo. Arrumou um casal de Manon, criados em cativeiro. Ao serem libertados após o culto não sabiam o que fazer com a liberdade. Irmão Vicente me perguntou: - “Pastor, soltou os passarinhos?” – “Sim”, respondi. “Pois a coruja vai pegá-los durante a noite”, sentenciou. Era verdade. Havia-me esquecido das corujas. As corujas, para além das gaiolas, são uma ameaça para quem deseja voar.

Só que a gaiola também mata. Não de uma vez, mas aos poucos. Primeiro tira a alegria, depois mata. Alguém, no primeiro dia de gaiola, briga contra a injustiça. Dois ou três dias de prisão são suficientes para mostrar que a luta será inútil. Com o tempo acostuma-se com o alpiste. Pula de um pauzinho noutro para afastar o tédio, depois se esquece do tanto de tempo que está preso: sintoma de morte não sabida. Todas as gaiolas trazem uma mórbida segurança. Depois, podem até ficar de portas abertas. Não fará diferença para quem esqueceu o que é a liberdade. Ensinar a ser livre e a voar pode ser poético, mas não é fácil, quando a prisão vira o modo de ser e viver.

Acho que Jesus foi meio por esse caminho: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” É tanta liberdade, que até hoje discutimos o seu tamanho. Uns acham que ela termina aqui, ponto. Outros, que termina lá. Outros, que está na linha do horizonte. De liberdade em liberdade, ou de graça sobre graça como diria Paulo aos Romanos, o ser humano não é capaz de acreditar que é possível aprender a ser livre, assumir as responsabilidades da própria vida, e abraçar a promessa anunciada por Jesus, em oposição à segurança daquela religiosidade que escravizava. Aparentemente dava certa segurança, mas era desumana e infiel.

Da minha parte, prefiro enfrentar as corujas.

pr. Natanael Gabriel da Silva

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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