Há alguns dias atrás, saí de casa num sábado de manhã para comprar umas coisinhas no mercado. Entre a fila do pãozinho e o corredor dos chocolates, deparei-me com um funcionário que trazia em seu uniforme uma inscrição em letras bem legíveis, que chamaram minha atenção: “POSSO AJUDAR” ?
Fiquei pensando naquela pergunta. Não no contexto em que ela estava inserida, pois ali, essa ajuda envolvia um interesse comercial, ficava limitada ao treinamento do funcionário e da orientação que ele recebia sobre a ajuda que poderia oferecer. Pensei que num sentido mais amplo e no contexto de relacionamentos interpessoais, aquela pergunta é uma das mais importantes que uma pessoa pode fazer a alguém.
Ainda essa semana estive em uma delegacia. Era 01:00 Hs , início da madrugada, eu e minha esposa acompanhávamos uma mãe que não encontrava seu filho de 12 anos desde ás 17:00 quando chegara em casa. A falta de notícias e a noite fria que fazia, levavam aquela mãe a uma situação que nenhuma mãe consegue enfrentar sozinha e o desespero começava a querer dominá-la, ela precisava de ajuda. Buscamos essa ajuda na polícia, e nos aproximados 40 minutos em que permanecemos ali, o que pudemos constatar, é que não era só aquela mãe que precisava de ajuda. No mesmo momento em que a policial atendia a ocorrência do desaparecimento daquele filho, ficamos sabendo que duas pessoas perderam a vida ao serem atingidas por tiros, e minutos depois uma jovem, com hematomas na boca, dava queixa de seu namorado que havia acabado de agredi-la. Muitas outras pessoas precisavam de ajuda aquele dia. Talvez outras duas mães receberiam a notícia da morte de seus filhos, ou ainda filhos receberiam a notícia da morte de seus pais, esposas de seus maridos...Um jovem seria intimado pela polícia por agressão, e além de sofrer, faria com que seus pais e os pais daquela a quem covardemente agredira, também sofressem. Todos precisariam de ajuda. Eu preciso de ajuda, para saber entender e lidar com todas essas situações. Pensei que todos nós poderíamos usar a camiseta do funcionário do mercado, com uma pequena mudança: na frente a frase; “POSSO AJUDAR ?”, e nas costas: “PRECISO DE AJUDA”.
Penso que às vezes deixamos de ajudar, por não entendermos bem o conceito dessa ação. Pensamos que para ajudar alguém, temos que possuir uma boa situação financeira ou estarmos livre de problemas, imaginamos que se necessitados de ajuda não temos condições de ajudar. Já parou para pensar, no que as pessoas esperam de nós em relação á ajuda? Talvez elas esperem que simplesmente percebamos que elas existem, que perguntemos como foi o seu dia, o simples fato de ouvi-las fará com que elas se sintam melhor em relação á todos os problemas que talvez não possamos resolver. Podemos ajudar, quando deixamos de ser egoístas, quando damos um aperto de mão sincero olhando nos olhos da pessoa e perguntamos o famoso “tudo bem” com real interesse. Ajudamos quando abraçamos alguém, com um abraço sincero, apertado, cheio de afeto que talvez seja toda a ajuda que alguém espera há anos, mas que nunca teve a graça de receber. A ajuda pode ser prestada, quando damos um telefonema, exclusivamente pra falar um “oi” e perguntar “como você está”? Podemos ajudar na esfera familiar, simplesmente desligando a televisão, conversando com nossos filhos, fazendo um afago em suas cabeças. Ajudaríamos nossas esposas, se déssemos a mesma importância que damos ao noticiário esportivo a sua companhia e a seus assuntos. Ajudamos nossos colegas de trabalho, escola e faculdade quando entendemos e mostramos a eles que o importante não é o dinheiro que ganhamos ou o saber que adquirimos, e sim suas companhias, que fazem a diferença em nosso dia-a-dia.
Que bom seria, se adotássemos tais atitudes. Mas para que isso aconteça, necessário se faz que primeiro reconheçamos que não há capacidade em nós mesmos para colocarmos isso em prática.Dependemos de uma ajuda superior, que nos encha desse desejo e nos impulsione a ajudar outros. O Senhor Jesus foi muito claro nesse sentido quando disse as palavras que estão em João 15:5 : “Sem mim nada podeis fazer”.
Funciona mais ou menos como aquele homem da história que possuía um carro cuja buzina não funcionava, levou então o carro a uma oficina para o devido reparo, estava chovendo e ao chegar à entrada da oficina, que estava com os portões fechados leu um cartaz com os seguintes dizeres: “Para ser atendido buzine”.
Existem situações em nossas vidas que não adianta ficarmos procurando saídas, andando de um lado para o outro, nos esgotando à procura de soluções humanas. Precisaremos de uma ajuda externa, superior, que nos conduza a entender que essa ajuda, que vem de Deus, será uma experiência maravilhosa, que nos levará a sentir a necessidade de ajudar o próximo e nos alegrar com isso.
Quanto à mãe que procurava desesperadamente seu filho, o encontramos ainda aquela madrugada, menos de uma hora depois de chegarmos à delegacia. Estava não muito distante de sua casa, sentado em uma calçada, desagasalhado, descalço, sem alimentar-se desde a hora do almoço, na companhia de adolescentes, aparentemente drogado. Mãe e filho precisam de ajuda.
Que Deus nos ajude !
José B. Silva Junior
Seminarista
06/06/2008
Como adepto da leitura e pseudo-crítico, admito que estou impressionado.
ResponderExcluirComo seu irmão, confesso que fiquei orgulhoso.
Parabéns!!!