Atingidos pelos Reflexos...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Diakonos Haitianos


Li, já há algum tempo, o livro do renomado escritor contemporâneo, James C. Hunter: “Liderança Servidora”. Em alguns trechos do livro, Hunter fala sobre as atividades que desenvolve junto á executivos de grandes empresas, ministrando palestras sobre como ser um líder que influencia seus liderados através de algumas atitudes que demonstrem a disposição prática do servir ao próximo. Ele observou, que todos esses executivos, ficavam empolgados com as idéias apresentadas durante as palestras, mas ao voltarem para seus postos de trabalho na rotina de suas atividades diárias não conseguiam colocar em prática o que haviam aprendido. O colocarem-se em atitude de servos, prontos a ajudarem seus liderados, era algo que os incomodava e se tornava para eles um peso difícil de ser carregado para que os resultados fossem alcançados. Em uma última análise, estavam presos á idéia de que um líder não poderia estar em uma posição que demonstrasse igualdade com aqueles a quem lideravam. Para a maioria, assumir uma atitude de ajuda ao próximo, era submeter-se a algo humilhante, e que não combinava com seus ternos “Armanis” e suas gravatas italianas .

Já nas páginas da Bíblia, no Novo Testamento a idéia de serviço e ajuda ao próximo, entendida pelos apóstolos como uma necessidade da comunidade cristã, e que teria como representante dessa prática a pessoa do >διάκονος<(diákonos - palavra grega, que significa ajudador, servidor), mirava-se no exemplo do próprio Jesus. Aquele que através do serviço, do amor ao próximo e da preocupação com o problema humano, conseguia não só colocar em prática esses princípios, mas, além disso, influenciar o comportamento de seus seguidores para que um objetivo maior e sublime fosse alcançado. Tanto que uma das principais características da comunidade de cristãos do primeiro século era o de “terem tudo em comum e repartirem tudo que possuíam”. Esse exemplo de Jesus, me parece ser o princípio de liderança que Hunter tentava passar aos seus esforçados (mas orgulhosos) executivos. A verdadeira missão do diácono talvez seja ainda melhor entendida e explicada quando olhamos para a raiz da palavra grega, (para quem gosta de filigranas lingüísticas como eu...) e que revela algo bem prosaico: "passado através da poeira" (de "dia" = por, pelo, pela, e "konos" = poeira, pó). Isso mostra como a simplicidade revela a grandeza da função: o verdadeiro ajudador não se importa em passar através da poeira se necessário for, dá a idéia de se curvar a ponto de chegar próximo ao solo e ao pó... humilhar-se para exemplificar e praticar o real sentido do servir . Ao me deparar com esse significado da palavra diácono, me lembrei da tragédia no Haiti onde um terremoto de enormes proporções ceifou a vida de dezenas de milhares de pessoas e deixou muitas outras feridas, desabrigadas e sem uma perspectiva de uma vida digna no futuro. Enquanto via as imagens da tragédia pela televisão, vi também um enorme número de “diákonos” que passavam em frente ás câmeras... Médicos, enfermeiros, militares, missionários, repórteres, civis, profissionais dos mais diversos segmentos da sociedade e até mesmo crianças... com o corpo, o rosto, os cabelos, os lábios... cobertos de pó, na desesperada tentativa de prestar ajuda ao próximo... Pessoas “passadas através da poeira”... diákonos no exercício de suas missões em terras haitianas.



Assim como a função do ajudador do novo testamento não se limitava ao dar algo nem em se dar a alguém, mas principal e fundamentalmente em intermediar as misericórdias de Deus e ser “um braço” dEle para quem necessitasse; também isso, foi o que consegui enxergar nas vidas daqueles diákonos do Haiti: O canal de transmissão das misericórdias de Deus, “um braço” dEle estendido aos que sofriam com tamanha tragédia.

Entendo assim que a prática do serviço exige de nós, mais do que um título e capacidade cognitiva. Vai além do que a maioria dos ouvintes de Hunter entendeu sobre liderança servidora. Passa pela idéia de que nosso terno e gravata, nossa farda de militar, nosso uniforme branco de médico ou enfermeiro , e até mesmo nossos crachás com a inscrição “Diácono” (assim com “c” mesmo; um pouco mais distante do original grego), não determinam se somos mesmo diákonos
ou não... mas sobretudo, o que determina essa condição é a disposição em nos colocarmos em submissão ao Mestre do serviço, e através do seu exemplo e dependência, termos a graça de socorrer e servir aqueles que necessitam. Seja no Haiti ou em nossas comunidades.

Hunter deve ter compreendido que servir e ajudar são uma arte muito difícil!

E que só Deus pode ensiná-las de maneira plena...

“Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus"(1 Timóteo 3: 13).

José B. Silva Junior – Jan/2010.

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