Atingidos pelos Reflexos...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um limeirense, alguns gregos e um alemão .

Um certo estudante de teologia, nascido em Limeira-SP , escreveu há uns dias atrás uma reflexão que fazia pensar sobre qual o lugar para onde devíamos ir afim de se encontrar verdadeiramente com Deus. Incomodei-me com o anseio de que algo mais devesse ser pensado sobre o assunto. Ao concluir naquele texto, que o caminho a ser seguido estivesse na resposta de Jesus a Tomé : “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”..., outra questão emergiu dessa mente necessitada de respostas: Como reconhecer Jesus nesse caminho ? Não corro o risco de equivocadamente imaginar que estou no caminho da verdade e da vida sem necessariamente estar enxergando a imagem do Cristo, que se apresentou como tal ?

Ao lermos o evangelho de João, podemos perceber que a pregação de Jesus provocava muita curiosidade. Um grande número de pessoas vinha de diferentes regiões da Palestina para ouvi-lo. Dentre essas pessoas, João diz que algumas estavam particularmente interessadas em VER Jesus, e que também eram atraídas por sua pregação:

Alguns gregos disseram: queremos ver a Jesus” (João 12:20)
Alguns anos antes de João escrever sobre isso, a civilização grega surpreendera o mundo com sua filosofia. Demonstrando grande interesse pela investigação científica, produziram mitos, belíssimas peças teatrais, tragédias, dramas, obras clássicas de literatura, além de estabelecerem as bases da matemática, geometria, astronomia e física. Mas na época de Jesus, a cultura grega já parecia apresentar sinais de cansaço. Suas escolas tomaram rumos bem diferentes da genialidade de Sócrates, Platão e Aristóteles. Nessa época o pensamento grego se organizava em torno de escolas como o epicurismo e estoicismo. Todo esse contexto de busca por sabedoria e a consciência grega que a busca do conhecimento na época de Jesus chegara a um ponto de estagnação, levou os gregos a fazerem a si mesmos a mesma pergunta do limeirense: Para onde devemos ir ? e alguns nessa dúvida disseram: “Queremos ver Jesus !”.

Enxergo nessa crise de identidade dos gregos, uma clara comparação com a crise que nossa própria civilização ocidental enfrenta hoje. Nosso mundo com toda sua técnica, tecnologia e progresso, também sofre da mesma angústia que se manifesta nas buscas desesperadas de contato com o transcendente. Nesse sentido a frase dos gregos permanece tremendamente atual: “Queremos ver Jesus”!

Quando ouvimos essa pergunta é natural que alguns tipos de respostas se apresentem quase que automaticamente.

Alguns dirão que o lugar mais indicado para vê-lo, naturalmente é a Igreja. O problema é que a Igreja ás vezes coloca tantas proteções, adornos e embelezamento em torno de Jesus que fica difícil de identificá-lo. Em alguns casos são falhas institucionais e denominacionais que impedirão que as pessoas vejam Jesus na igreja.

Outros indicarão que o melhor lugar para ver Jesus é na Bíblia, dizendo: “Leia a bíblia e você verá Jesus”. Em alguns casos pode ser que isso até aconteça, mas quando não proporcionamos às pessoas um suporte que auxilie na interpretação do texto sagrado, a pessoa de Jesus pode ficar obscurecida em meio ás letras. E mais perigos ainda do que não oferecermos um aparato á interpretação da bíblia, é quando a interpretamos de modo que ao invés de libertar as pessoas para que sigam alegremente a Jesus, as aprisionamos ainda mais em sistemas religiosos.

Mas então qual o melhor e mais enfático retrato de Jesus Cristo ? Onde poderemos vê-lo de maneira mais clara e satisfatória?

A resposta pode ser achada através do apóstolo Paulo se referindo à pessoas que transmitiam a nítida imagem de Jesus : “Vocês são cartas vivas aos homens”. (2Co 3.2). Podemos assim, entender que vemos Jesus naquelas vidas cujo caráter foi remodelado à imagem e semelhança do próprio Jesus.

Uma boa metáfora para identificarmos essas vidas, encontra-se também no evangelho de João: “Se o grão de trigo não morrer embaixo da terra, não produzirá o fruto” (Jo 12:24).

Na metáfora do grão que morre na terra, a morte é condição para que se liberte toda energia vital contida no grão. A vida aí encerrada se manifesta de forma nova quando a casca do grão de despedaça. A vida contida potencialmente na semente só se torna ato quando essa vida é libertada da casca que a aprisiona.

Quando alguém nos disser; “Queremos ver Jesus”, de nada adianta apontarmos para a Igreja ou mesmo para a Bíblia. Nenhuma dessas localizações será satisfatória se Cristo não for visto em nós mesmos. De nada adianta apontar a igreja, se a prática cristã não é uma realidade em nossa própria vida. O lugar mais eficaz para revelar Cristo é a vida dos que se doam em seu nome.

Um alemão parece deixar o limeirense estudante de teologia, mais convicto desse pensamento:

Alguns dos que lêem esse texto, já devem ter ouvido falar em um teólogo chamado Albert Schweitzer. Ele escreveu um livro onde faz um apanhado das mais diversas biografias escritas sobre Cristo em sua época. Ficou famoso por conta desses escritos. Um dia leu a respeito de um lugar chamado Gabão, na África e decidiu ir até lá como missionário. Nessa época ele cursava medicina. Terminou o curso e renunciou á uma vida de privilégios que tinha na Europa, mudando-se com toda a família para o Gabão, onde fundou um hospital. Mudou sua atividade, de teólogo acadêmico para médico. Atendia gratuitamente como clinico geral a crianças, idosos; pessoas de todas as condições e de todas as religiões daquele país. Quando os recursos para a manutenção do hospital começavam a acabar Schweitzer ia para a Europa se apresentar em teatros e igrejas tocando órgão. Foi desse modo que sustentou o hospital. Em virtude dessa obra ele ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1954. Dos seus 90 anos de vida gastou os últimos 52 na África. A vida de Schweitzer foi o melhor retrato de Jesus para os habitantes daquela região.

Há um antigo lema franciscano que pode ser aplicado à vida de Schweitzer e de tantas outras pessoas:

“Evangeliza sempre, em todo momento; se der tempo, fale alguma coisa”. Que desse modo, possamos mostrar o caminho e a pessoa de Jesus, quando nos perguntarem dele.


José B. Silva Junior

Extratos do livro:“Entre o Púlpito e a Universidade” - Carlos Calvani.

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