“O gol é apenas um detalhe”... Assim, um dia, definiu o técnico Carlos Alberto Parreira o lance mais desejado do futebol. Lembro-me que na época em que a frase foi dita, lá pelos meados de 1994, ano em que nossa seleção conquistava o tetra campeonato mundial de futebol, os jornalistas, cronistas e críticos esportivos, quase que em sua unanimidade o crucificaram pela “infeliz” definição.
E apesar de todos os comentários que ouvi, contrários a declaração do técnico da seleção, me esforcei para entender o que ele estava tentando dizer. Concordei com ele e passei a admirá-lo ainda mais.
Como torcedor (quase) fanático que sou, durante um bom tempo de minha adolescência e juventude freqüentei alguns estádios de futebol assistindo aos jogos do melhor time do mundo (rs). Cansei de ver esse time jogar um futebol quase sempre pouco técnico, ás vezes arrancando aquele empate suado, dando chutão de bico pela lateral ou então para o alto no meio de campo, jogadas ríspidas disputadas corpo a corpo, centímetro a centímetro do campo, enfim... Cansei de ver “jogo feio”, onde, de repente numa falta bem cobrada na entrada da área , gol ! 1x0. Torcedores iam embora felizes e satisfeitos pela vitória.
O gol nesse caso não era um detalhe. Fazia toda a diferença no resultado do jogo. Pois o que se via era um time sem organização tática ou técnica alguma. Uma correria danada onde a equipe que conseguisse colocar a bola dentro das redes adversárias saía vencedora. Em muitas dessas partidas, ninguém se aplicava em cumprir as determinações técnicas e táticas. A vitória acontecia por acaso.
Parreira quis mudar isso, ele era obcecado em organizar o time. Fazer a bola passar de pé em pé, preparar a equipe de modo que a posse de bola e a postura tática do time dentro do campo fizessem a diferença no resultado. Talvez o maior problema de Parreira com os críticos se devesse o fato de que ele era filosoficamente convencido de que a defesa era o melhor caminho para vencer um torneio. Brasileiro está acostumado com o ataque, com Zico, Pelé, Garrincha, Rivelino, Tostão e Sócrates, quer ver gols. E Parreira contrariava isso ao ser adepto do futebol planejado, pragmático, defensivo e marcador. Por ironia do destino a seleção que Parreira dirigia em 1994 foi campeã chegando ao último jogo contra a Itália, tendo o melhor ataque da copa.
Quando então Parreira afirma que o gol é apenas um detalhe, imagino que ele quis dizer que o que realmente importava era o comportamento do time em campo, da função que cada um deveria executar. Do cumprimento e da obediência tática que cada atleta deveria buscar. Feito isso, o gol naturalmente aconteceria. Como numa orquestra em que cada músico acompanha fielmente a partitura fazendo com que a melodia chegue aos ouvidos de todos. Nesse caso, o importante é ser organizado e cumprir as determinações do técnico. O resto é um detalhe... ainda que esse detalhe faça toda a diferença e seja responsável pela vitória no final da partida. Mas é um detalhe.
A essa altura você deve estar pensando, porque estou lendo isso num blog que trata sobre assuntos de teologia ?
Minha teoria é de que nossa salvação em Cristo também é um detalhe.
A Bíblia é clara em apresentar o plano de salvação para o homem. São vários os textos que indicam esse caminho. O principal talvez se encontre no evangelho de João: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira , que deu seu único filho, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16).
Ou ainda no clássico texto de Romanos:"Se, com tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo"(Rm 10:9)
Também o próprio Jesus indicou esse caminho: “Voltando do deserto, começou Jesus a pregar: Arrependei-vos, e crede no Evangelho” (Mt.4:17).
Ou seja, o ato de crer em Jesus como Aquele que morreu e ressuscitou por mim, arrepender-me da condição de praticante do pecado e confessar isso aos homens faz de mim uma pessoa salva, livre da condenação descrita na bíblia aos que assim não o fizerem. Minha teoria de que a salvação é um detalhe, deve-se ao fato de que a cultura e tradição evangélica de nossos dias, estabelecem equivocadamente ao meu ver, que uma pessoa que responde sim à pergunta : “Você aceita Jesus como seu salvador pessoal” ? Já determina o fato dela ser salva.
O apóstolo Paulo vai falar algo sobre a condição em que essa pessoa que se diz salva, deva se encontrar para ter essa certeza: “Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”(2 Cor. 5:17). Olhando dessa perspectiva não é a mão levantada apenas que demonstra a evidência da salvação de uma pessoa, mas a mudança de comportamento.
Levantar a mão á um apelo, responder uma ficha de “decisão” por Cristo e dizer “eu sou salvo”, tem sido para a maioria dos evangélicos hoje em dia, o “gol de falta” que salva o time da derrota. No caso aqui, o que determina a vitória da pessoa sobre a morte eterna.
Creio que a salvação em Cristo é um detalhe, na medida em que minha vida vai tomando um rumo em direção ao evangelho. Quando sinto essa transformação de fé em fé. Quando percebo isso como um processo. Quando posso enxergar na vida da pessoa que se diz salva, os frutos que a Bíblia diz que esses indivíduos irão produzir nessas condições: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.
A decisão de crer em Cristo e obter a salvação, passa pelo sentimento de termos uma vida organizada, guiada pelas exigências de Nosso Senhor Jesus Cristo. Passa também pelas evidências de uma mudança de atitude, dos frutos que a nova vida em Cristo descrita por Paulo deve produzir. É semelhante ao time organizado do Parreira. Primeiro desenvolvem-se evidências de que o gol vai sair, e ele sai naturalmente, pela aplicação ao que foi estabelecido e determinado pelo comandante. Parreira levava tão a sério o planejamento para as partidas que disputava, que chegou quase a lamentar o gol marcado na copa de 94 por Romário no início do segundo tempo do jogo com a Suécia :"Coloquei o Mazinho em campo para aumentar a pressão no ataque. Como o gol saiu logo, minha tática ficou prejudicada". Parreira temia que aquele gol, pudesse fazer com que o comportamento do time não se adequasse mais ao que fora estabelecido para se chegar à vitória.
Na cultura cristã atual, talvez a certeza que a mão levantada dá ao indivíduo sobre sua salvação, o prejudique em desenvolver uma vida cristã plena, de acordo com a vontade de Deus para sua vida. “Seu desempenho como cristão pode ficar prejudicado pelo gol fora de hora”.
Não estou aqui querendo limitar o poder do Espírito Santo na função de convencer o homem da necessidade de arrependimento, não é minha intenção justificar a salvação pelas obras e também não quero dizer que uma pessoa não possa ser salva através de um único gesto e confissão que demonstrem a crença em Jesus Cristo.
O que tento explicar é que a salvação torna-se um detalhe, quando nossas vidas sentem a necessidade de se adequarem aos ensinamentos de Jesus Cristo sobre vivermos uma vida de “fé em fé”. É uma conseqüência natural do prazer e satisfação que sentimos em realizar as ordens e nos esforçar em andar segundo a vontade daquele em quem declaramos crer e ao qual um dia decidimos receber como Senhor e salvador de nossas vidas.
Pela opinião da cultura dominante evangélica atual, basta levantar as mãos ou preencher um cartão de decisão e você é salvo. Grande parte das igrejas pregam um evangelho fácil, ao estilo “gosto do freguês”, onde a renúncia ao “eu” proposta por Jesus tem sido deixada de lado em detrimento ás opiniões, vontades e gostos do ser humano. No futebol, Parreira sujeitou-se às críticas, contrariou o estilo brasileiro, a opinião dominante, o gosto da torcida e criou um time aplicado, consciente e vitorioso.
Que Deus nos ajude a entender como indivíduos e como igreja que nossa salvação em Cristo, ainda que obtida através de uma atitude, só acontece quando um processo é desencadeado e concluído no ser humano. Um processo que pode se desenvolver ao longo de horas, dias, meses ou até mesmo em segundos, mas que precisa acontecer e ser evidenciado pelo nosso comportamento dentro de “campo”.
"Porém vocês, meus amigos, continuem a progredir na fé, que é a fé mais sagrada que existe. Orem guiados pelo Espírito Santo. E continuem vivendo no amor de Deus, esperando que o nosso Senhor Jesus Cristo, na sua misericórdia, dê a vocês a vida eterna" (Jd 20-21)
José B. Silva Junior.
E apesar de todos os comentários que ouvi, contrários a declaração do técnico da seleção, me esforcei para entender o que ele estava tentando dizer. Concordei com ele e passei a admirá-lo ainda mais.
Como torcedor (quase) fanático que sou, durante um bom tempo de minha adolescência e juventude freqüentei alguns estádios de futebol assistindo aos jogos do melhor time do mundo (rs). Cansei de ver esse time jogar um futebol quase sempre pouco técnico, ás vezes arrancando aquele empate suado, dando chutão de bico pela lateral ou então para o alto no meio de campo, jogadas ríspidas disputadas corpo a corpo, centímetro a centímetro do campo, enfim... Cansei de ver “jogo feio”, onde, de repente numa falta bem cobrada na entrada da área , gol ! 1x0. Torcedores iam embora felizes e satisfeitos pela vitória.
O gol nesse caso não era um detalhe. Fazia toda a diferença no resultado do jogo. Pois o que se via era um time sem organização tática ou técnica alguma. Uma correria danada onde a equipe que conseguisse colocar a bola dentro das redes adversárias saía vencedora. Em muitas dessas partidas, ninguém se aplicava em cumprir as determinações técnicas e táticas. A vitória acontecia por acaso.
Parreira quis mudar isso, ele era obcecado em organizar o time. Fazer a bola passar de pé em pé, preparar a equipe de modo que a posse de bola e a postura tática do time dentro do campo fizessem a diferença no resultado. Talvez o maior problema de Parreira com os críticos se devesse o fato de que ele era filosoficamente convencido de que a defesa era o melhor caminho para vencer um torneio. Brasileiro está acostumado com o ataque, com Zico, Pelé, Garrincha, Rivelino, Tostão e Sócrates, quer ver gols. E Parreira contrariava isso ao ser adepto do futebol planejado, pragmático, defensivo e marcador. Por ironia do destino a seleção que Parreira dirigia em 1994 foi campeã chegando ao último jogo contra a Itália, tendo o melhor ataque da copa.
Quando então Parreira afirma que o gol é apenas um detalhe, imagino que ele quis dizer que o que realmente importava era o comportamento do time em campo, da função que cada um deveria executar. Do cumprimento e da obediência tática que cada atleta deveria buscar. Feito isso, o gol naturalmente aconteceria. Como numa orquestra em que cada músico acompanha fielmente a partitura fazendo com que a melodia chegue aos ouvidos de todos. Nesse caso, o importante é ser organizado e cumprir as determinações do técnico. O resto é um detalhe... ainda que esse detalhe faça toda a diferença e seja responsável pela vitória no final da partida. Mas é um detalhe.
A essa altura você deve estar pensando, porque estou lendo isso num blog que trata sobre assuntos de teologia ?
Minha teoria é de que nossa salvação em Cristo também é um detalhe.
A Bíblia é clara em apresentar o plano de salvação para o homem. São vários os textos que indicam esse caminho. O principal talvez se encontre no evangelho de João: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira , que deu seu único filho, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16).
Ou ainda no clássico texto de Romanos:"Se, com tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo"(Rm 10:9)
Também o próprio Jesus indicou esse caminho: “Voltando do deserto, começou Jesus a pregar: Arrependei-vos, e crede no Evangelho” (Mt.4:17).
Ou seja, o ato de crer em Jesus como Aquele que morreu e ressuscitou por mim, arrepender-me da condição de praticante do pecado e confessar isso aos homens faz de mim uma pessoa salva, livre da condenação descrita na bíblia aos que assim não o fizerem. Minha teoria de que a salvação é um detalhe, deve-se ao fato de que a cultura e tradição evangélica de nossos dias, estabelecem equivocadamente ao meu ver, que uma pessoa que responde sim à pergunta : “Você aceita Jesus como seu salvador pessoal” ? Já determina o fato dela ser salva.
O apóstolo Paulo vai falar algo sobre a condição em que essa pessoa que se diz salva, deva se encontrar para ter essa certeza: “Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”(2 Cor. 5:17). Olhando dessa perspectiva não é a mão levantada apenas que demonstra a evidência da salvação de uma pessoa, mas a mudança de comportamento.
Levantar a mão á um apelo, responder uma ficha de “decisão” por Cristo e dizer “eu sou salvo”, tem sido para a maioria dos evangélicos hoje em dia, o “gol de falta” que salva o time da derrota. No caso aqui, o que determina a vitória da pessoa sobre a morte eterna.
Creio que a salvação em Cristo é um detalhe, na medida em que minha vida vai tomando um rumo em direção ao evangelho. Quando sinto essa transformação de fé em fé. Quando percebo isso como um processo. Quando posso enxergar na vida da pessoa que se diz salva, os frutos que a Bíblia diz que esses indivíduos irão produzir nessas condições: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.
A decisão de crer em Cristo e obter a salvação, passa pelo sentimento de termos uma vida organizada, guiada pelas exigências de Nosso Senhor Jesus Cristo. Passa também pelas evidências de uma mudança de atitude, dos frutos que a nova vida em Cristo descrita por Paulo deve produzir. É semelhante ao time organizado do Parreira. Primeiro desenvolvem-se evidências de que o gol vai sair, e ele sai naturalmente, pela aplicação ao que foi estabelecido e determinado pelo comandante. Parreira levava tão a sério o planejamento para as partidas que disputava, que chegou quase a lamentar o gol marcado na copa de 94 por Romário no início do segundo tempo do jogo com a Suécia :"Coloquei o Mazinho em campo para aumentar a pressão no ataque. Como o gol saiu logo, minha tática ficou prejudicada". Parreira temia que aquele gol, pudesse fazer com que o comportamento do time não se adequasse mais ao que fora estabelecido para se chegar à vitória.
Na cultura cristã atual, talvez a certeza que a mão levantada dá ao indivíduo sobre sua salvação, o prejudique em desenvolver uma vida cristã plena, de acordo com a vontade de Deus para sua vida. “Seu desempenho como cristão pode ficar prejudicado pelo gol fora de hora”.
Não estou aqui querendo limitar o poder do Espírito Santo na função de convencer o homem da necessidade de arrependimento, não é minha intenção justificar a salvação pelas obras e também não quero dizer que uma pessoa não possa ser salva através de um único gesto e confissão que demonstrem a crença em Jesus Cristo.
O que tento explicar é que a salvação torna-se um detalhe, quando nossas vidas sentem a necessidade de se adequarem aos ensinamentos de Jesus Cristo sobre vivermos uma vida de “fé em fé”. É uma conseqüência natural do prazer e satisfação que sentimos em realizar as ordens e nos esforçar em andar segundo a vontade daquele em quem declaramos crer e ao qual um dia decidimos receber como Senhor e salvador de nossas vidas.
Pela opinião da cultura dominante evangélica atual, basta levantar as mãos ou preencher um cartão de decisão e você é salvo. Grande parte das igrejas pregam um evangelho fácil, ao estilo “gosto do freguês”, onde a renúncia ao “eu” proposta por Jesus tem sido deixada de lado em detrimento ás opiniões, vontades e gostos do ser humano. No futebol, Parreira sujeitou-se às críticas, contrariou o estilo brasileiro, a opinião dominante, o gosto da torcida e criou um time aplicado, consciente e vitorioso.
Que Deus nos ajude a entender como indivíduos e como igreja que nossa salvação em Cristo, ainda que obtida através de uma atitude, só acontece quando um processo é desencadeado e concluído no ser humano. Um processo que pode se desenvolver ao longo de horas, dias, meses ou até mesmo em segundos, mas que precisa acontecer e ser evidenciado pelo nosso comportamento dentro de “campo”.
"Porém vocês, meus amigos, continuem a progredir na fé, que é a fé mais sagrada que existe. Orem guiados pelo Espírito Santo. E continuem vivendo no amor de Deus, esperando que o nosso Senhor Jesus Cristo, na sua misericórdia, dê a vocês a vida eterna" (Jd 20-21)
José B. Silva Junior.
Olá! Gostei da comparação e do texto. Muito bom! Pois é, infelizmente muitas igrejas não tem um entendimento de como é a salvação. Como você mesmo disse, a salvação é muito mais do que preencher um papel ou levantar a mão num culto. A salvação requer a renúncia, negar a nossa carne e andar com Cristo.
ResponderExcluirFica na paz!
Olá Junior! Parabéns pelo texto, ficou muito bom e bíblico. (Menos o Parreira, o seu melhor time do mundo e o futebol KKKKKKKKKKKKK). Concordo plenamente com você, ou melhor, ambos concordamos com o que a Bíblia diz sobre a salvação por meio do arrependimento e mudança total de vida. Escrever é dom de poucos e você tem este dom.
ResponderExcluirDeus abençoe.