Atingidos pelos Reflexos...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

É Primavera, tempo de reflexão...


É primavera... Não há como ignorar que dentre as quatro estações, essa é a que mais nos traz inspiração. Ela representa a renovação da vida, que ocorre logo após as baixas temperaturas do inverno. A primavera com suas flores exuberantes e seu colorido ímpar, sempre nos inspira à esperança.

Hoje, quando celebramos o início da primavera, lembramos também de um dos mais belos trechos do sermão do monte: “Olhai as aves do céu... Olhai os lírios do campo”. É um convite de Jesus. Precioso convite acompanhado de lições preciosas.


1 – É um convite à exercitarmos um olhar contemplativo.


Na língua grega, o verbo “olhai”, tem um significado muito mais abrangente: Trata-se de um olhar contemplativo, aquele que é capaz de adentrar além do mistério da vida presente e do que está a frente de nossos olhos. É triste quando observamos que o ser humano de nosso tempo perdeu esse olhar contemplativo. Nosso olhar está infectado pelo vírus científico, técnico e calculista. Perdemos aos poucos a capacidade de valorizar o belo e simples. Para os que perderam essa percepção, as folhas de um ipê (como na foto acima), não passam de um monturo de lixo a sujar nossos monumentos. Quando consideramos que folhas de um ipê são sujas e nos agridem, algo de muito ruim está acontecendo conosco.


Mas podemos treinar esse olhar contemplativo no que chamamos de disciplina espiritual. O segredo dessa disciplina está em estarmos dispostos em nos abrir ao transcendente. É o olhar capaz de ver no pão e no vinho de nossa ceia, não apenas “pão e vinho”, mas o puro trigo colhido no campo e a vistosa uva cultivada por mãos dedicadas, que se transformam em símbolo de comunhão e ligação entre criador e criaturas.


Bom seria se nos permitíssemos sempre que Deus trabalhasse em nós e especialmente em nosso olhar, para que pudéssemos naturalmente contemplar a beleza de suas obras.


2 – É um convite de Jesus para contemplarmos a providência de Deus na criação.


“Olhai as aves do céu. Elas não semeiam nem colhem, nem ajuntam em armazéns... No entanto, o Pai que está nos céus as alimenta.”

Isso pode parecer um convite à irresponsabilidade, mas não. Antes, é uma exortação a confiarmos na providência e na graça de Deus sobre nossas existências. Muitas de nossas dificuldades no dia-a-dia seriam menores caso praticássemos essa constante contemplação da providência divina sobre nossas vidas.


Os pássaros que ás vezes percebemos voando no céu têm muito a nos ensinar. Deus, de alguma maneira os sustenta e garante a sobrevivência de sua espécie. Mas nós, geralmente nos estressamos demais com nosso sustento porque sempre estamos preocupados em ajuntar em celeiros e garantir nosso futuro. É naturalmente sábio ter algum tipo de previdência para suportar problemas futuros. Porém, quando a preocupação pela previdência ofusca a fé na Providência é sinal de que nossos valores estão invertidos. A doutrina da Providência nos ensina que Deus zela por nós, pela natureza, pela história e há de conduzir-nos sob seus cuidados. Conforme nos sugere o apóstolo Pedro:

“Coloquem nas mãos de Deus qualquer preocupação, pois é Ele quem cuida de vocês”(I Pe 5.7)


3 – É um convite de Jesus a contemplar a beleza da simplicidade.

“Olhai os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam... eu, contudo vos afirmo que nem o rei Salomão em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles”.


É interessante observar a comparação que Jesus fez aqui – Salomão o opulento e poderoso rei de Israel, que se vestia com os tecidos finos e caros da época é comparado aos lírios do campo e perde longe nessa comparação. Somos então desafiados por Jesus a contemplar a beleza da simplicidade em contraste ao nosso mundo que eleva o que é ostensivo e luxuoso, o que custa caro e que gostamos de esnobar.


Há outro detalhe importante que devemos notar com atenção. Jesus fala em lírios do campo. Não é lírio cuidado e cultivado em nossos jardins, não é o lírio que cresce nas floriculturas recebendo adubo e cuidado constante. Não é o lírio que se tornou belo e vistoso porque a mão humana colaborou nesse processo. Não é para esse lírio que devemos olhar, mas para os lírios do campo” que crescem nas regiões mais inóspitas, sob os riscos do tempo chuvoso e árido, sob todas as ameaças da natureza. Os lírios do campo se tornaram belos porque foram cuidados e preservados somente por Deus.


É um convite a abrirmos nosso coração à surpreendente e maravilhosa providência de Deus e de seu poder ao nosso redor.


Espero que essa reflexão primaveril nos inspire a viver nesse mundo com uma perspectiva diferenciada e com um olhar diferente. Que a chegada da estação das flores se apresente a nós como uma oportunidade de recomeço, de esperança, de alegria e de fé.

José B. Silva Junior



Extratos do livro “Entre o Púlpito e a Universidade” – Carlos Eduardo Calvani

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