Atingidos pelos Reflexos...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Afinal, para que serve a teologia ?


Afinal, para que serve e Teologia ?

Dia desses fui ao banco assinar alguns documentos e o funcionário que me atendia aproveitou para atualizar o cadastro da conta. O atendente passou então a confirmar alguns dados: Endereço, telefone, local de trabalho... Quando chegou no item escolaridade, ao dizer para ele que era estudante de Teologia, percebi o único momento em que o fiz tirar os olhos do monitor do computador e olhar em minha direção com uma incrível expressão de interrogação. Invariavelmente é assim, quando me apresento como estudante de teologia, as pessoas demonstram um misto de curiosidade e espanto sobre o assunto.

Já houve quem questionasse: “Mas depois disso você fará algo que lhe de algum futuro, não é ?”

Richard Dawkins, um dos maiores defensores do ateísmo foi além, ele disse:

“Qual a utilidade da Teologia...? As realizações dos teólogos não fazem nada, não afetam nada, não significam nada. Afinal, o que faz alguém pensar que “teologia” é um campo do conhecimento?” ( uau... essa doeu !)

Para tentar entender no que a Teologia (cujo principal objeto de estudo é invisível) pode ser benéfica a alguém, ou ainda, ser reconhecida como um campo do conhecimento, recorri inicialmente a metafísica.

A metafísica trata de problemas sobre o propósito e a origem da existência e dos seres. Da especulação em torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser. Muitas vezes ela é vista como parte da Filosofia, outras, se confunde com ela.

Pois bem, a metafísica é o exercício da mais difícil das operações intelectivas: a apreensão do transparente dos transparentes, isto é, do diáfano* das coisas (*que deixa passar a luz através de sua massa compacta, sem, contudo, deixar ver distintamente as formas dos objetos; algo translúcido,transparente) ; para isso, o nosso saber precisa fazer a si mesmo a maior das "violências". Para entedermos melhor, imagine-se tentando observar um vidro com um grau de transparência muito próximo a 100%, e do esforço que você terá que empreender em sua visão para poder focá-lo.

Aristóteles (Estagira, Macedônia, 384-322 aC), e S. Boaventura (Bagnoregio, Itália, 1217-1274), por exemplo, nos falam de aspectos diferentes da ofuscação circunstancial da mente humana perante o diáfano.

Diz Aristóteles: Do mesmo modo que se comportam os olhos do morcego a respeito da luz do meio-dia, comporta-se também o intelecto de nossa alma a respeito das coisas que são as mais visíveis do mundo ("té phúsei phanerótata pánton").

S. Boaventura cita literalmente o texto de Aristóteles e acrescenta: Porque, acostumados às trevas dos entes e das imagens sensíveis, quando o homem vê a luz do Ser Supremo, parece-lhe que nada vê; não entende que essa escuridão é a iluminação suprema da nossa mente.

A apreensão do diáfano é "constitutivamente" difícil; e isso por dois motivos:

• Primeiro, porque o diáfano é um âmbito constitutivo das coisas, mas não pertence ao âmbito do óbvio ou do ultra-óbvio delas...

• As coisas do cosmos simplesmente têm um certo desejo ou tendência (órexis) de estar em movimento ou mudança.

• Mas isso não parece plenamente suficiente para explicar os movimentos e mudanças das coisas do cosmos; alguém, de alguma maneira, faz que as coisas existentes no cosmos efetivamente se movam ou mudem; e a nossa pergunta (incluindo os teólogos e estudantes de teologia) então é: Quem?

Crítica de Kant (Königsberg, Alemanha, 1724-1804) a toda a metafísica anterior ao seu tempo: A razão humana não pode conhecer as "coisas tal como são em si mesmas"; o conhecimento da razão humana consiste apenas em "objetualidade".

Ou seja: É certo que a razão humana está carregada de questões acerca das coisas em si, (objetualidade) que não pode eliminar, porque lhe são colocadas precisamente pela sua própria natureza.

• No entanto, muito mais certo ainda é que a razão não é capaz de resolver essas questões acerca das coisas em si, porque transcendem absolutamente todo poder da razão humana.

Para Kant, assim como para toda a metafísica moderna, o primeiro transcendental é a verdade, mas entendida como "a objetualidade a priori do dado pelas coisas feitas pelo Eu pensante".

Assim, Kant (como crítico da razão pura) me faz pensar, que somente a Razão Divina conhece as coisas em si, porque as criou; a razão humana não, porque é "essencialmente diferente" da Razão de Deus.

Isto posto, deixando um pouco de lado a metafísica e a filosofia, a utilidade da teologia consiste em fornecer ferramentas e subsídios à busca da compreensão da “Razão de Deus”. A teologia também se esforça para analisar os caminhos da sociedade e fornecer elementos e subsídios para que se identifique os seus desvios. A missão do teólogo dentro desse contexto, é a de convidar os indivíduos para refletirem acerca do transcendente à sua razão. Pois de fato, quando o homem pergunta; “Qual a utilidade da Teologia, e o que faz alguém pensar que esse é um campo do conhecimento?”, ele nada mais faz do que demonstrar sua sede de racionalizar explicações que sua mente não tem capacidade por si só de compreender.

E é nessa sede de conhecer à Deus, (ainda que por um impulso inconsciente), que o homem ao se colocar ante o diáfono, também anseia desenvolver relacionamentos profundos, e encontrar algo capaz de fazê-lo ir além de si mesmo e descobrir-se como pessoa. Então, a teologia tenta traduzir para a linguagem humana os caminhos que nos conduzem aos mistérios Divinos.

Para quê serve a Teologia? Para lembrar às pessoas de que a vida é mais do que aquilo que se pode ver ou tocar.

Jose B. Silva Junior – 05/2010

4 comentários:

  1. Paz Júnior!
    Excelente texto. Já passei por essa questão a respeito da Teologia quando era seminarista. Até de pessoas cristãs ouvia também críticas.
    O importante de tudo isto, é que Deus nos chamou para apregoar o Reino de Deus, para mostrar que o Reino de Deus é visível entre nós, ainda que os céticos o achem invisível.

    Deus te abençoe...

    www.michelineblogs.blogspot.com

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  2. gostei muito do seu ponto de vista , sou professor de teologia e enfrento essa dificuldade de entendimento em quase todas as pessoas . o pior e perceber que as pessoas acham que nao ha uma necessidade iminente de estudar , mas se tudo gira no ambito da fé , prefiro acreditar , de uma forma lógica e racional , que nao sou fruto de um acaso de bilhões de anos . forte abraço e esteja na paz .

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  3. seguir a Deus é o mais importante de que servir o dinheiro

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  4. Gosteii muito do texto sobre a teologia
    Eu pensava que teologia so servia para palavra de Deus.

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