“Tudo o que está na Bíblia é verdade, mas nem tudo que é verdade está na Bíblia”.
Li essa frase um uma entrevista de Ed Renè Kivitz, que a atribuiu como de autoria de um professor de teologia com quem teve aula. Fiquei por alguns momentos, lendo e relendo o pensamento, tentando achar a “verdade” dessa afirmação. A pergunta que fiz a mim mesmo foi inevitável, “se tudo o que está na bíblia é verdade, como pode acontecer de nem toda verdade, estar na bíblia?” E continuei pensando comigo mesmo: “Mas na verdade... de qual verdade estamos falando?”
Para os mais afeitos à filosofia, talvez não haja pergunta mais apreciada do que esta: “ O que é a verdade” ?
Aliás a própria filosofia ao tentar estabelecer um consenso para a questão acabou em algum momento por se conflitar, pois há um antigo conceito filosófico que preceitua que a verdade absoluta não existe. Porém, ao admitirmos essa afirmação como uma verdade, deveremos também entender que a verdade de que a verdade absoluta não existe, não pode ser uma verdade absoluta, pelo simples fato de que essa não seria segundo a própria premissa apresentada, uma verdade absoluta. É amigo..., se explicar o pensamento é complicado, imagine trilhar o caminho e chegar á conclusão do que é a verdade...
Platão é outro que vivia fazendo perguntas a si mesmo sobre o problema da verdade. Através de um dos seus diálogos, o “Eutidemo”, onde se ocupando da retórica , analisava e se propunha a provar algumas questões através de um diálogo entre dois irmãos (Eristic e Dionysodorus), onde uma das discussões apresentadas seria a de que toda hipótese deveria ser imediatamente confirmada, ou seja, entendida a priori, como uma verdade. Eristic, usa como argumento para tal entendimento a crença no fundamento de que o erro não é possível, logo tudo o que você pensa ou diz é verdade. Platão não aceita esse argumento, e então, critica duramente a Eristic com um meio pelo qual é impossível compreender a verdade dizendo isso, pois que se em princípio cada coisa é verdade, não haveria nada a ensinar e nada a aprender.
Aproximadamente quatrocentos anos depois desses diálogos Platônicos, vivia-se a realidade de uma sociedade influenciada agora por filósofos epicureus e estóicos que reuniam-se nas praças de atenas - as ágoras - , afim de discutirem sobre o conhecimento da verdade. Entre eles Dionísio, o Areopagita, com quem o apóstolo Paulo travou alguns diálogos e segundo a história, seria um dos que foram convertidos à fé cristã pelo Apóstolo dos Gentios. (Atos 17:34).
Nesse contexto do mundo helênico da época neo-testamentária, João, o discípulo amado, narra um diálogo de Jesus com alguns judeus que criam nEle. Jesus aqui parece também entrar na discussão platônica sobre o conhecimento da verdade, e a indica como um caminho de libertação, Ele diz:: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará...” João 8:32
Penso eu: Estaria Jesus, fazendo através dessa afirmação uma exortação à filosofia e ao inquérito homem interior ? Afinal, qual seria essa verdade libertadora apresentada por Jesus à seus ouvintes ? Devemos nos lembrar, que a frase não foi dita para pessoas que não criam em Jesus, é o próprio texto bíblico que nos garante que Ele.. “disse (aquilo) aos judeus que haviam crido nele...” Mal comparando, Jesus fala sobre o conhecimento da verdade aquelas pessoas que já haviam “levantado suas mãos” e “ o aceitado como Senhor e Salvador de suas vidas”. Mas então, de qual verdade Jesus estava falando ?
Entendo que essa verdade, aponta para o sentido da vida plena e abundante (hyperekperissou) que Jesus oferecia às pessoas. Uma vida que envolveria a fé no filho de Deus e o questionamento do homem pelo verdadeiro sentido da vida. Vida que não deveria ficar presa às leis e rituais, mas sim, estar submissa à prática do amor . Os judeus (fariseus?) que haviam crido em Jesus e simpatizado com sua pregação no capitulo 8 de João, ainda não haviam descoberto toda a verdade da qual necessitavam para serem livres ( pelo contrário, estavam muito distantes dela). Eles ainda precisavam de muletas, eram dependentes do cumprimento de uma série de rituais estabelecidos pela religião judaica. Eram prisioneiros de mentes e olhos que pensavam e enxergavam por eles. Haviam crido, mas creram sem entender o que Jesus pregava. Sobre isso o próprio Jesus lhes pergunta:“Por que não entendeis a minha linguagem?” É também o próprio Jesus que responde de forma retórica: “Vocês não entendem, por não poderem ouvir a minha palavra – (João8:43).” E na continuação dos argumentos Jesus de forma enfática faz ainda outra pergunta: “Se vos digo a verdade porque não acreditam?”(João 8:46b).O que mais me deixa perplexo nesse diálogos de Jesus com aqueles Judeus, é o texto bíblico afirmar que eles CRIAM n’ELE. Uma crença inútil, que os fazia estarem distantes da libertação que Jesus pregava.
Entendo que a verdade que liberta, é a verdade da pregação e da vida de Jesus. Uma verdade que se estabelece através das atitudes que Ele teve quando passou por esse mundo em relação ao ser humano. Verdade que não se baseava em vãs discussões filosóficas , discursos hipócritas sobre fazer o bem ou em cumprimento de rituais. Jesus é a personificação e realização dessa verdade, Ele é a teoria e a prática dessa verdade que sempre indicou a busca pelo real interesse em amar e ajudar ao próximo em sua plenitude. Essa é a verdade transcendente e absoluta que tem a capacidade de transformar e libertar totalmente o ser-humano em todas as esferas de sua existência, nessa e na outra vida.
Concluindo meu pensamento, sobre a leitura de Ed René Kivitz, e compartilhando do pensamento dele, eu diria que por mais abrangente que eu queira ser nessa minha abordagem sobre a verdade , antes de ter a pretensão de querer convencer ou falar com qualquer pessoa eu falo comigo mesmo. Os textos que tenho escrito, os escrevo buscando respostas para mim. Quando eu as encontro, as que me satisfazem ainda que minimamente, eu compartilho e expando. Mas estou falando primeiro para mim e depois para os outros. Sempre em busca da verdade que liberta... em todas as esferas da vida !
José B. Silva Junior - Fev/2010
Li essa frase um uma entrevista de Ed Renè Kivitz, que a atribuiu como de autoria de um professor de teologia com quem teve aula. Fiquei por alguns momentos, lendo e relendo o pensamento, tentando achar a “verdade” dessa afirmação. A pergunta que fiz a mim mesmo foi inevitável, “se tudo o que está na bíblia é verdade, como pode acontecer de nem toda verdade, estar na bíblia?” E continuei pensando comigo mesmo: “Mas na verdade... de qual verdade estamos falando?”
Para os mais afeitos à filosofia, talvez não haja pergunta mais apreciada do que esta: “ O que é a verdade” ?
Aliás a própria filosofia ao tentar estabelecer um consenso para a questão acabou em algum momento por se conflitar, pois há um antigo conceito filosófico que preceitua que a verdade absoluta não existe. Porém, ao admitirmos essa afirmação como uma verdade, deveremos também entender que a verdade de que a verdade absoluta não existe, não pode ser uma verdade absoluta, pelo simples fato de que essa não seria segundo a própria premissa apresentada, uma verdade absoluta. É amigo..., se explicar o pensamento é complicado, imagine trilhar o caminho e chegar á conclusão do que é a verdade...
Platão é outro que vivia fazendo perguntas a si mesmo sobre o problema da verdade. Através de um dos seus diálogos, o “Eutidemo”, onde se ocupando da retórica , analisava e se propunha a provar algumas questões através de um diálogo entre dois irmãos (Eristic e Dionysodorus), onde uma das discussões apresentadas seria a de que toda hipótese deveria ser imediatamente confirmada, ou seja, entendida a priori, como uma verdade. Eristic, usa como argumento para tal entendimento a crença no fundamento de que o erro não é possível, logo tudo o que você pensa ou diz é verdade. Platão não aceita esse argumento, e então, critica duramente a Eristic com um meio pelo qual é impossível compreender a verdade dizendo isso, pois que se em princípio cada coisa é verdade, não haveria nada a ensinar e nada a aprender.
Aproximadamente quatrocentos anos depois desses diálogos Platônicos, vivia-se a realidade de uma sociedade influenciada agora por filósofos epicureus e estóicos que reuniam-se nas praças de atenas - as ágoras - , afim de discutirem sobre o conhecimento da verdade. Entre eles Dionísio, o Areopagita, com quem o apóstolo Paulo travou alguns diálogos e segundo a história, seria um dos que foram convertidos à fé cristã pelo Apóstolo dos Gentios. (Atos 17:34).
Nesse contexto do mundo helênico da época neo-testamentária, João, o discípulo amado, narra um diálogo de Jesus com alguns judeus que criam nEle. Jesus aqui parece também entrar na discussão platônica sobre o conhecimento da verdade, e a indica como um caminho de libertação, Ele diz:: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará...” João 8:32
Penso eu: Estaria Jesus, fazendo através dessa afirmação uma exortação à filosofia e ao inquérito homem interior ? Afinal, qual seria essa verdade libertadora apresentada por Jesus à seus ouvintes ? Devemos nos lembrar, que a frase não foi dita para pessoas que não criam em Jesus, é o próprio texto bíblico que nos garante que Ele.. “disse (aquilo) aos judeus que haviam crido nele...” Mal comparando, Jesus fala sobre o conhecimento da verdade aquelas pessoas que já haviam “levantado suas mãos” e “ o aceitado como Senhor e Salvador de suas vidas”. Mas então, de qual verdade Jesus estava falando ?
Entendo que essa verdade, aponta para o sentido da vida plena e abundante (hyperekperissou) que Jesus oferecia às pessoas. Uma vida que envolveria a fé no filho de Deus e o questionamento do homem pelo verdadeiro sentido da vida. Vida que não deveria ficar presa às leis e rituais, mas sim, estar submissa à prática do amor . Os judeus (fariseus?) que haviam crido em Jesus e simpatizado com sua pregação no capitulo 8 de João, ainda não haviam descoberto toda a verdade da qual necessitavam para serem livres ( pelo contrário, estavam muito distantes dela). Eles ainda precisavam de muletas, eram dependentes do cumprimento de uma série de rituais estabelecidos pela religião judaica. Eram prisioneiros de mentes e olhos que pensavam e enxergavam por eles. Haviam crido, mas creram sem entender o que Jesus pregava. Sobre isso o próprio Jesus lhes pergunta:“Por que não entendeis a minha linguagem?” É também o próprio Jesus que responde de forma retórica: “Vocês não entendem, por não poderem ouvir a minha palavra – (João8:43).” E na continuação dos argumentos Jesus de forma enfática faz ainda outra pergunta: “Se vos digo a verdade porque não acreditam?”(João 8:46b).O que mais me deixa perplexo nesse diálogos de Jesus com aqueles Judeus, é o texto bíblico afirmar que eles CRIAM n’ELE. Uma crença inútil, que os fazia estarem distantes da libertação que Jesus pregava.
Entendo que a verdade que liberta, é a verdade da pregação e da vida de Jesus. Uma verdade que se estabelece através das atitudes que Ele teve quando passou por esse mundo em relação ao ser humano. Verdade que não se baseava em vãs discussões filosóficas , discursos hipócritas sobre fazer o bem ou em cumprimento de rituais. Jesus é a personificação e realização dessa verdade, Ele é a teoria e a prática dessa verdade que sempre indicou a busca pelo real interesse em amar e ajudar ao próximo em sua plenitude. Essa é a verdade transcendente e absoluta que tem a capacidade de transformar e libertar totalmente o ser-humano em todas as esferas de sua existência, nessa e na outra vida.
Concluindo meu pensamento, sobre a leitura de Ed René Kivitz, e compartilhando do pensamento dele, eu diria que por mais abrangente que eu queira ser nessa minha abordagem sobre a verdade , antes de ter a pretensão de querer convencer ou falar com qualquer pessoa eu falo comigo mesmo. Os textos que tenho escrito, os escrevo buscando respostas para mim. Quando eu as encontro, as que me satisfazem ainda que minimamente, eu compartilho e expando. Mas estou falando primeiro para mim e depois para os outros. Sempre em busca da verdade que liberta... em todas as esferas da vida !
José B. Silva Junior - Fev/2010
É incrível como, de alguma maneira, nossas idéias acabam se cruzando. Á pouco fiz um trabalho que iniciava com o poema abaixo e que, se não na mesma linha, chegava a mesma conclusão.
ResponderExcluir"A palavra mágica
Carlos Drummond de Andrade.
A Palavra Mágica
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra."
Sou seu Fã,
Grande abraço!!!
Seguimos procurando juntos meu irmão..!!
ResponderExcluirSou seu fã !