“Persuadiste-me, ó SENHOR, e
persuadido fiquei; mais forte foste do que eu, e prevaleceste...” (Jeremias
20:7).
Nesses dias não é fácil falar sobre evangelização,
porque essa é uma palavra usada por muita gente e de diferentes maneiras. Há
quem pense na evangelização apenas como expansão da igreja, crescimento da
instituição e aumento explosivo do número de batismos e nomes na relação de
membros.
Em geral quem entende evangelismo dessa forma, fica
muito preocupado com os relatórios anuais, porque os avalia em termos
mercantilistas, próprios à ideologia do sucesso que nos rodeia. Entendo que
embora importantes, o aumento da membresia e o crescimento de uma igreja, são
muito mais a conseqüência do evangelismo que propriamente sua natureza. Quem
deseja medir a qualidade da fé com base nesses critérios, terminará
contribuindo para o desenvolvimento da desagradável competição de estratégias
missionárias entre igrejas e denominações, disputa bastante discutível do ponto
de vista ético e teológico.
O texto bíblico contido no livro do profeta
Jeremias nos indica um sublime caminho em direção à forma de evangelizar.
“Persuadiste-me, ó SENHOR, e persuadido fiquei;
mais forte foste do que eu, e prevaleceste...”
Muitos de nós conhecemos a estória do Pequeno
Príncipe, clássico infanto-juvenil de Saint-Exupéry, transformada recentemente
em filme. Em certo trecho do livro, o principezinho encanta-se com a beleza de
uma raposinha e lhe diz: “venha aqui brincar comigo”. Mas a raposinha responde:
“Eu não posso... não fui cativada ainda...”. O príncipe lhe pergunta o que
significa cativar, e a raposa responde: “Cativar é criar laços. Você não é para
mim nada mais do que um menino entre outra centena de meninos. E para você, eu
sou apenas uma raposa, como outras tantas raposas. Mas se você me cativar, nós
sentiremos falta um do outro. Você será para mim o único no mundo e eu seria
para você a única no mundo”. Depois disso, dia após dia, o pequeno príncipe
aproximava-se pouco a pouco da raposinha. Ambos se cativaram.
Cativar alguém é um ato elevado. E é assim que
Jeremias descreve a ação de Deus. Ele o cativou, o seduziu. E ao agir assim,
revelou-se não como um Deus preocupado com mais um, mas um Deus cuja marca
central é a pessoalidade, o amor, a gratuidade, o encanto. Isso nos leva a
compreender melhor o que significa a palavra evangelizar. Não é somente
convencer alguém a respeito de certas doutrinas. Mais do que isso, é cativar as
pessoas, compartilhar com elas nossa própria vida, tal como Cristo fez (e faz)
conosco. Foi o que aconteceu entre o pequeno príncipe e a raposinha – ambos
compartilharam seu tempo um com o outro.
Evangelização tem necessariamente que passar por
essa via: aproximação gradativa e constante, tal como o principezinho aprendeu.
E esse movimento não pode ser motivado apenas pela busca de resultados dos
quais possamos nos orgulhar. O principal objetivo da aproximação é servir,
compartilhar Cristo e contribuir para que a vida do nosso próximo seja mais
livre, feliz, realizada e completa.
Quando nós cristãos aprendermos que a evangelização
deve ser conduzida de modo diferente sem querermos tanto a qualquer preço que
as pessoas aceitem nossa doutrina, quando passarmos a dedicar mais tempo a
cativar as pessoas, então a fé cristã se tornará muito mais relevante.
Quando a evangelização começar a acontecer em outra
perspectiva, com encanto e ternura, haverá mais abraços e a saudação de paz
será realmente sinal de reconciliação entre Deus e entre nós, sinal de
restauração de relações rompidas, sinal de graça nas ruas e praças. E nós temos
urgência disso, principalmente em nosso mundo, tão marcado pela violência e
perda de sensibilidade.
Espero que o texto de Jeremias nos ensine a
compreender a evangelização numa nova perspectiva. A opção pelo abraço, o
encanto, a poesia, o despertar da sensibilidade, do carinho e da acolhida. E
que a graça de Deus me ajude a cativá-los...
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo
que cativas"; (Antoine de Saint-Exupery)
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