Pra falar do assunto, penso que eu tenho uma vantagem em relação
ao religioso. Antes de tornar-me um questionador, curioso, leitor e estudante
sobre assuntos da Teologia e religião, alguém que olha a religião
"desde fora", vivi-a por dentro, como um conservador fundamentalista.
Tive meus pelo menos quinze anos de "fundamentalismo" - de corte
batista, ainda por cima... Sei como a cabeça de um religioso funciona, e sei como
a cabeça de um doutrinário-dogmático funciona: tive minha fase ... Acreditem:
se estamos falando das experiências evangélicas tradicionais brasileiras.
Entreguei minha consciência a elas, durante quinze anos - pelo menos...
Os religiosos que me conhecem e me ouvem ou leem devem lembrar
que eu carrego dentro de mim as duas experiências - sei exatamente como
funciona a cabeça do religioso (acreditem, sei!), e sei também, pela instrução
de professores que tive no curso de Teologia como "deve" funcionar a
do pesquisador, que é o que tenho perseguido por natural expressão de minha
interioridade.
Quando eu digo que rito religioso nenhum é capaz de ajudar você
a aproximar-se da realidade para "saber" como ela é, é porque estou
dizendo que a função dele é dizer a você - sem checar - o que isso diz que o
real é. A religião e os ritos evangélicos são o modo evangélico de ver o mundo.
Ele é diferente do islâmico, que é o modo do Islã ver o mundo... Quando falamos
de realidade, não pode ser de religião que falamos...
Para aproximar-se do real, você deve, antes de mais nada,
admitir que tudo que você acha que sabe sobre ele pode estar errado.
Você só saberá depois de pôr seu pensamento em cheque e ir para o mundo,
testá-lo, seja empiricamente, seja racionalmente, submetendo-o aos mais severos
regimes de confrontação. Mas fazer isso, para a fé, é, já, pecar, apostatar.
Mentem para você, dizendo que a dúvida é o fim da fé, logo da verdade, quando
ela é a condição para o início da caminhada. A dúvida é o fim do dogma, isso
sim... Da verdade ela é é a condição.
Um
religioso, meus amigos, um cristão, e, lamento dizer, um evangélico - enquanto
evangélico e na condição de evangélico, sujeitando-se ao regime evangélico e de
pé sobre o princípio evangélico da verdade dogmática, ensinada em catequese sem
possibilidade de dúvida, simplesmente está proibido por sua própria
consciência, por força da educação que recebe e do tipo de fé que tem, de
assumir a possibilidade de estar errado. Ele sempre está certo -
até de noite, quando põe a cabeça sobre o travesseiro, ou quando olha no
espelho e, principalmente, quando lê a Bíblia por meio da doutrina, confirmação
fundamental e subjetiva de seu estado de verdade...
Para
esse não há a mínima possibilidade de que a doutrina que segue não seja a
verdade...
Religião
pode dar conforto, como remédios alopáticos dão - é a melhor função dela. Mas
"verdade" é algo absolutamente pernicioso para a religião - é como o
sal sobre a lesma, como o Sol sobre o orvalho.
E,
nesse sentido (eu disse.., nesse sentido), se você quer ir para o céu,
religião, se quer saber o que o mundo é, ciência...
Das leituras em:
peroratio.blogspot.com - Osvaldo Luiz Ribeiro
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