Atingidos pelos Reflexos...

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Desigrejado... eeeeu??



Um amigo, membro da Assembleia me procura essa semana, pedindo auxílio no preparo da lição da escola dominical. O material usado, publicado pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus), traz como tema: “A nova religiosidade”. Aborda em um de seus tópicos a questão dos “desigrejados”. Fenômeno que vem crescendo nos últimos anos.

 

Em um dos trechos da lição, o autor atribui como uma das causas do fenômeno o seguinte motivo: “Não há dúvida que muitos desse grupo foram enganados e seduzidos por ideias, doutrinas e demais pensamentos que têm origem nas ações ou nas astutas ciladas do Maligno ... Outros saem por insubordinação, falta de compromisso e também por quererem dominar sobre o povo...”  - assim, o “desigrejado” ou é influenciado pelo capeta ou tem problema de ego.


O renomado Pr. Augusto Nicodemus (presbiteriano) é um dos pastores que também anda preocupado com os “desigrejados”.

 

Ele diz em um de seus artigos sobre o tema:é difícil olhar adiante e entender qual será o futuro da igreja evangélica”...  – Concordo com ele.

 

Vivi quase 30 anos dentro de uma igreja evangélica tradicional. Com formação na área teológica, durante boa parte desse tempo fiz parte da liderança/diretoria, dava aula na EBD para jovens e adultos, era envolvido com os grupos de evangelização e ministrava cursos na área de ensino. Porém meu conceito de igreja hoje mudou muito. Gostaria muito de poder compartilhar dessas minhas experiências do passado, e do porque não concordar com o sistema da maioria das igrejas evangélicas hoje, só que é óbvio  -  não sou bem vindo dentro do “sistema” para compartilhar esse tipo de ideia... Mas o faço sempre que posso, como agora...

 

Frequento esporadicamente a EBD numa Igreja Batista em Campinas... Na mesma classe que eu, um amigo dos tempos da faculdade. Alguns dias atrás, conversávamos ao final de uma aula justamente sobre esse assunto...

 

Ele se mostrava preocupado comigo pelo fato de eu não frequentar com mais regularidade os “cultos”...; Por coincidência, na EBD daquele dia havíamos acabado de estudar o discurso de Estevão em Atos, quando ele diz perante o sinédrio que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas...

 

Com jeito (porque pra falar sobre esse assunto com o crente que está apegado às doutrinas mais do que ao texto bíblico, tem que ter jeito), tentei explicar pra ele, que a meu ver esse formato da “igreja evangélica” hoje, está bem distante daquela ekklesia do 1º século... Conversei uma meia hora com ele, sobre o que eu penso sobre igreja, comunhão, adoração, serviço, etc...

 

Pra resumir, no final ele disse que vamos ter que conversar mais sobre isso, pois ele não teve argumentos pra me convencer que eu deveria ir mais à “igreja”...
 
 
Mas a questão pra mim, não é essa... De quem tem mais ou menos argumentos pra entender, defender ou definir a igreja... A questão pra mim, é que assim como Nicodemus, o que me faz mal é ver a desvirtuosidade (acho que essa palavra não existe) da igreja institucionalizada nos dias de hoje...

 

Penso que a proposta de Jesus não é, com certeza, aquilo que tanta gente imagina, como dar duro no “ministério”, reunir uma multidão de fiéis ou construir novas salas e templos. Tem mais a ver com a vida que se pode enxergar, provar e tocar, algo que se pode desfrutar todos os dias. O que mais vemos dentro de nossas igrejas, são pessoas concentrarem-se e envolverem-se de tal maneira no trabalho para Jesus que acabam perdendo de vista quem ele realmente é.

 

Nós lemos em nossas bíblias: “Alegrei-me quando me disseram vamos à Casa do Senhor”... e queremos convencer as pessoas, de que “essa casa” são os templos de nossas igrejas. Isso já está arraigado, enraizado e concretado na mente de todos os “crentes” de tal forma que ninguém mais consegue perceber que a “casa de Deus” na verdade, está se movendo durante os sete dias da semana e os 365 dias do ano. Ela não fica fixa naquele endereço para o qual vão no domingo. Não conseguem mais perceber o que há de mais precioso no evangelho, é que ele nos liberta da idéia de que Deus reside em um local determinado. Num lugarzinho escondido, mas especial de suas mentes, elas tem a imagem de que Deus estaria encerrado no recesso do templo e apenas disponível para pessoas especiais em ocasiões especiais. Uma das lições mais significativas que Jesus deu a seus discípulos foi de parar de procurar Deus por meio de rituais e de regras. Ele não tinha vindo para enfeitar a religião deles com cultos, cerimônias e templos bonitos; mas para oferecer-lhes uma relação. As pessoas porém, não concebem essa idéia. Não conseguem imaginar um discípulo de Cristo livre dos cercos institucionais de uma igreja, de uma denominação, de uma teologia, de uma doutrina, de uma "cobertura espiritual" ou de um líder religioso.

 

Junto com isso, soma-se nosso modo de vida individualista, capitalista e consumista... E temos “igrejas” que se tornaram em verdadeiras agências bancárias do céu,  que vendem e financiam o sonho de consumo de seus fiéis...

 

A Casa do Senhor (se podemos assim dizer) somos nós...-  Não o “Templo de Salomão” do Edir Macedo, nem A Assembleia de Deus do Malafaia”, Minha Igreja Batista” ou “Sua Igreja Presbiteriana”.

 

O termo “desigrejado” usado pelo Nicodemus no artigo que ele escreveu , pelo autor da lição publicada pela CPAD, e que virou moda nesses dias, toma como ponto de vista, as pessoas que deixaram de estar todos os domingos entre as quatro paredes do templo.

 

Mas tenho que lembrar que não posso chamar de “desigrejado”, aquele que foi redimido pelo sangue de Cristo, que busca comunhão e a prática dos princípios Cristãos através do relacionamento com pessoas em sua comunidade (trabalho, vizinhos, padaria, supermercado, banco, faculdade, escola, academia...), que testemunha sua fé através de palavras e de vida. Esse apesar de ter o rótulo de “desigrejado”, por aqueles que têm a ideia fixa num templo de tijolos, ainda assim pertencem ao “Corpo de Cristo”. (Ou Ele não disse que onde duas ou três pessoas se reunissem em Seu nome, lá ele estaria?...).

 

É... tá difícil... , O assunto ser tema de debate, numa aula de EBD, dentro de um conteúdo editorial programático de uma das maiores editoras evangélicas do país... já é um indicador do tamanho da preocupação, e de que precisamos mudar algo.  - A GRAÇA liberta!

 

Para saber mais sobre o assunto leia:
“Porque você não quer mais ir à Igreja? – Uma Historia sobre o verdadeiro sentido do amor de Deus”
Wayne Jacobsen e Dave Coleman – Editora Sextante

 


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