Um amigo, membro da Assembleia me procura essa semana,
pedindo auxílio no preparo da lição da escola dominical. O material usado,
publicado pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus), traz como tema:
“A nova religiosidade”. Aborda em um de seus tópicos a questão dos “desigrejados”.
Fenômeno que vem crescendo nos últimos anos.
Em um dos trechos da lição, o autor atribui como uma das
causas do fenômeno o seguinte motivo: “Não
há dúvida que muitos desse grupo foram enganados e seduzidos por ideias,
doutrinas e demais pensamentos que têm origem nas ações ou nas astutas ciladas
do Maligno ... Outros saem por insubordinação, falta de compromisso e também
por quererem dominar sobre o povo...” - assim, o “desigrejado” ou é influenciado
pelo capeta ou tem problema de ego.
O renomado Pr. Augusto
Nicodemus (presbiteriano)
é um dos pastores que também anda preocupado com os “desigrejados”.
Ele diz em um de seus artigos sobre o tema: “é difícil olhar
adiante e entender qual será o futuro da igreja evangélica”... – Concordo com ele.
Vivi quase 30 anos dentro de uma igreja evangélica
tradicional. Com formação na área teológica, durante boa parte desse tempo fiz
parte da liderança/diretoria, dava aula na EBD para jovens e adultos, era
envolvido com os grupos de evangelização e ministrava cursos na área de ensino.
Porém meu conceito de igreja hoje
mudou muito. Gostaria
muito de poder compartilhar dessas minhas experiências do passado, e do porque
não concordar com o sistema da maioria das igrejas evangélicas hoje, só que é
óbvio - não sou bem vindo dentro do “sistema” para
compartilhar esse tipo de ideia... Mas o faço sempre que posso, como agora...
Frequento esporadicamente a EBD numa Igreja Batista em Campinas...
Na mesma classe que eu, um amigo dos tempos da faculdade. Alguns dias atrás, conversávamos ao final de uma aula
justamente sobre esse assunto...
Ele
se mostrava preocupado comigo pelo fato de eu não frequentar com
mais regularidade os “cultos”...; Por coincidência, na EBD daquele dia havíamos
acabado de estudar o discurso de Estevão em Atos, quando ele diz perante o
sinédrio que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas...
Com
jeito (porque pra falar sobre esse assunto com o crente que está apegado às
doutrinas mais do que ao texto bíblico, tem que ter jeito), tentei explicar pra
ele, que a meu ver esse formato da “igreja evangélica” hoje, está bem
distante daquela ekklesia do 1º século... Conversei uma meia hora com ele,
sobre o que eu penso sobre igreja, comunhão, adoração, serviço, etc...
Pra
resumir, no final ele disse que vamos ter que conversar mais sobre isso, pois
ele não teve argumentos pra me convencer que eu deveria ir mais à “igreja”...
Mas a
questão pra mim, não é essa... De quem tem mais ou menos argumentos pra
entender, defender ou
definir a igreja... A questão pra mim, é que
assim como Nicodemus, o que me faz mal é ver a desvirtuosidade (acho que essa
palavra não existe) da igreja institucionalizada nos dias de
hoje...
Penso
que a proposta de Jesus não é, com certeza, aquilo que tanta gente imagina,
como dar duro no “ministério”, reunir uma multidão de fiéis ou construir novas
salas e templos. Tem mais a ver com a vida que se pode enxergar,
provar e tocar, algo que se pode desfrutar todos os dias. O que mais vemos
dentro de nossas igrejas, são pessoas concentrarem-se e envolverem-se de tal
maneira no trabalho para Jesus que acabam perdendo de vista quem ele realmente
é.
Nós
lemos em nossas bíblias: “Alegrei-me quando me disseram vamos à Casa do
Senhor”... e queremos convencer as pessoas, de que “essa casa” são os templos
de nossas igrejas. Isso já está arraigado, enraizado e concretado na mente de
todos os “crentes” de tal forma que ninguém mais consegue perceber que a “casa
de Deus” na verdade, está se movendo durante os sete dias da semana e os 365
dias do ano. Ela não fica fixa naquele endereço para o qual vão no domingo. Não
conseguem mais perceber o que há de mais precioso no evangelho, é que ele nos
liberta da idéia de que Deus reside em um local determinado. Num lugarzinho
escondido, mas especial de suas mentes, elas tem a imagem de que Deus estaria
encerrado no recesso do templo e apenas disponível para pessoas especiais em ocasiões
especiais. Uma das lições mais significativas
que Jesus deu a seus discípulos foi de parar de procurar Deus por meio de
rituais e de regras. Ele não tinha vindo para enfeitar a religião deles com
cultos, cerimônias e
templos bonitos; mas para oferecer-lhes uma
relação. As
pessoas porém, não concebem essa idéia. Não
conseguem imaginar um discípulo de Cristo livre dos cercos institucionais de
uma igreja, de uma denominação, de uma teologia, de uma doutrina, de uma
"cobertura espiritual" ou de um líder religioso.
Junto
com isso, soma-se nosso modo de vida individualista, capitalista e consumista...
E temos “igrejas” que se tornaram em verdadeiras agências bancárias do céu,
que vendem e financiam o sonho de consumo de seus fiéis...
A
Casa do Senhor (se podemos assim dizer) somos nós...- Não o “Templo de Salomão” do Edir Macedo, nem “A Assembleia de Deus do Malafaia”, “Minha Igreja Batista” ou “Sua Igreja
Presbiteriana”.
O
termo “desigrejado” usado pelo Nicodemus no artigo que ele escreveu , pelo
autor da lição publicada pela CPAD, e que virou moda nesses dias, toma como
ponto de vista, as pessoas que deixaram de estar todos os domingos entre as
quatro paredes do templo.
Mas
tenho que lembrar que não posso chamar de “desigrejado”, aquele que foi
redimido pelo sangue de Cristo, que busca comunhão e a prática dos princípios
Cristãos através do relacionamento com pessoas em sua comunidade (trabalho,
vizinhos, padaria, supermercado, banco, faculdade, escola, academia...), que
testemunha sua fé através de palavras e de vida. Esse apesar de ter o rótulo de
“desigrejado”, por aqueles que têm a ideia fixa num templo de tijolos, ainda
assim pertencem ao “Corpo de Cristo”. (Ou Ele não disse que onde
duas ou três pessoas se reunissem em Seu
nome, lá ele estaria?...).
É...
tá difícil... , O assunto ser tema de debate, numa aula de EBD, dentro de um conteúdo
editorial programático de uma das maiores editoras evangélicas do país... já é um indicador do tamanho da preocupação, e de que precisamos mudar algo. - A GRAÇA
liberta!
Para saber mais sobre o assunto leia:
“Porque você não quer mais ir à Igreja? – Uma Historia
sobre o verdadeiro sentido do amor de Deus”Wayne Jacobsen e Dave Coleman – Editora Sextante
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