Atingidos pelos Reflexos...

domingo, 24 de agosto de 2008

O Fato, Deus !


Através de um artigo publicado no Jornal Folha de S. Paulo de 16.09.2001, José Saramago declara seu ceticismo em relação á Deus. O texto que tem como título “O Fator Deus”, foi escrito logo após a tragédia das torres gêmeas em Nova York no dia 11 de setembro de 2001, ainda em meio à perturbação que tudo aquilo causava ao mundo.

A perplexidade de Saramago diante de tragédias como as de 11 de setembro, da Guerra do Vietnã, do extermínio de Judeus na 2ª guerra e de outras citadas por ele, é a mesma que sentimos. Não há mesmo como entendermos tantas vidas que chegam ao fim de maneiras tão cruéis e cheias de terror. Seu questionamento sobre o posicionamento e até mesmo sua descrença sobre a existência de Deus em todas essas situações é algo perfeitamente compreensível. Assim como Saramago, ficamos tentados a atribuir a culpa de todas essas tragédias, ao criador do universo, aquele que , pelo menos em nossas idéias, é o responsável pela ordem do caminhar da humanidade. Nessas situações, nossas limitadas mentes procuram respostas muitas vezes através de perguntas: Deus existe ? Onde está Deus ? Se Deus existe e controla tudo isso, porque coisas assim acontecem ? Diante da falta de respostas temos sim o direito que Saramago reivindica. O direito de escolher dizer não à Deus, o direito à Heresia, o direito de achar que Deus só existe em nossos pensamentos. Será que temos uma resposta á essas perguntas ?

A origem do bem e do mal, a criação do homem, a construção do universo é sempre um assunto que nos remete á um debate permeado de especulações, tanto científicas quanto teológicas, mas o que podemos ver em nossos dias, é esse debate tornar-se cada vez mais interessante. O avanço da ciência nas últimas décadas tem contribuído de forma significativa para a discussão. Temos por exemplo a descoberta de dois cientistas há cerca de 30 anos atrás: Arno Penzias e Robert Wilson provaram cientificamente a existência de radiações do brilho avermelhado da explosão do chamado big bang, conhecida como radiação cósmica de fundo, descoberta aliás, que lhes rendeu um prêmio nobel. Em resumo,através deste feito, soube-se que o universo teve sim um início, através de um surgimento grandioso. Mas qual o significado disso para nossa questão sobre a existência de Deus ?

Robert Jastrow, diretor do maior observatório do mundo e fundador do instituto Goddard para estudos especiais da Nasa, autor do livro “Deus e os Astrônomos”, mesmo sendo um agnóstico confesso em relação á assuntos religiosos disse:
Os astrônomos percebem agora que se colocaram numa encruzilhada, porque provaram por seus próprios métodos que o mundo começou abruptamente, num ato de criação ao qual se pode rastrear as sementes de toda estrela , todo planeta, toda coisa viva no cosmo e na terra, eles descobriram que tudo isso aconteceu como um produto de forças que não esperavam encontrar...isso que eu e qualquer pessoa chamaria de força sobrenatural, é agora, penso eu, um fato cientificamente comprovado.

Nas últimas palavras de seu livro Jastrow ainda afirma:
Para o cientista que tem vivido pela fé no poder da razão, a história termina como um sonho ruim. Ele escalou as montanhas da ignorância, está prestes a conquistar o pico mais elevado e, quando se lança sobre a última rocha, é saudado por um grupo de teólogos que estão sentados ali há vários séculos.
O que se percebe é que se realmente estudarmos a ciência é certo que seremos levados para mais pertos de Deus.
Usando uma citação de Saramago sobre a frase de Nieztsche: “Tudo seria permitido, se Deus não existisse”, penso haver uma verdade nessa frase, pois para aquele que argumenta a favor da não existência de Deus, tudo não só seria, mas é permitido, até mesmo escrever coisas tão sem sentido. E à essa mesma pessoa que se diz ateísta, será difícil reunir uma linha de raciocínios e argumentos capazes de explicar a existência de Deus, pois conforme o próprio Nieztche (também ateu) disse, “é nossa preferência que decide contra o cristianismo, e não os argumentos.” Portanto, não importa o que eu tente responder aqui para Saramago, ele já conhece todas as possíveis explicações e até provas que indicam a existência de um criador e de uma criação sobrenaturais. Sua opção pelo “Fator Deus” é uma questão pouco inteligente de preferência pessoal.

Lendo há alguns meses atrás um artigo sobre o caso da morte da menina Isabella Nardoni, jogada pelo próprio pai pela janela do 6º andar do prédio onde morava em São Paulo, e que comoveu a opinião pública do Brasil, assim como todas as outras tragédias citadas por Saramago que chocam todo o mundo, uma pergunta chamou-me a atenção: “Onde estava Deus ?”

Penso eu, que Deus estava onde sempre esteve. Na posição que sempre assumiu desde o princípio da criação do universo e do homem, dando-lhe liberdade para fazer escolhas e agir. E é claro que essa afirmativa não deve ser um ponto final na resposta à pergunta, é claro que uma frase não vai confortar os corações aflitos nem tampouco deixar-nos livre da dor de ver tantas pessoas indefesas, incluindo crianças, morrendo de forma tão horrenda; e penso que é muito provável que nem essa e nem tantas outras frases que tentei ou tente dizer aqui serão suficientes para explicar coisas tão humanamente irracionais.

Deus , quando em sua forma humana através de Jesus, passou por este mundo, deixou marcas. Cientistas, filósofos, historiadores, teólogos, psicólogos e até mesmo ateus, reconhecem que seus ensinamentos e sua habilidade em se relacionar com aqueles que o cercavam era algo impressionante. E se atentarmos bem para sua história, veremos que o centro de suas atividades está mesmo no homem. Ao multiplicar os pães e peixes, ao transformar água em vinho, ao fazer a pesca fracassada no mar da Galiléia se transformar em um sucesso, Ele não abre mão da participação do homem em cada um desses episódios. Lembram ? “Encham as talhas de água”..., “Tragam-me os cinco pães e os dois peixes”..., “joguem a rede”... Ele poderia ter feito tudo isso do nada, bastava um estalar de dedos e tudo aconteceria. Porém ele se preocupa com o homem, quer vê-lo sentindo-se parte importante no processo de mudança. Para Jesus o homem é indispensável nessa tentativa de transformar mal em bem. Suas atitudes e ensinamentos sempre apontavam para uma única direção: o fazer o bem. Mas o ser humano insiste pelo mal. No ato da criação humana, Deus dá algumas recomendações do que devia ser feito, mas a escolha pelo erro é feita pelo homem. Jesus, muitos anos depois, volta a relacionar-se com o homem na tentativa de fazê-lo entender que ainda há tempo. O homem teima em não entender; o amor incondicional (e isso inclui amar até mesmo seu próprio inimigo), o abraçar e amar as criancinhas (Jesus demonstra essa preocupação várias vezes no evangelho), curar os doentes, se preocupar com os pobres...enfim, o homem resolve de alguma forma, que nada disso é bom...Então Jesus sofre, a humanidade sofre. Jesus porém, sofre como nenhum outro ser humano sofreu e jamais sofrerá. A cruz então, nos faz pensar e refletir sobre as trágicas mortes que citamos até aqui : Qual outra morte poderia ser tão injusta quanto á de Jesus ? Sim, ela é injusta em nossa perspectiva humana. Alguém bom e inocente não deveria sofrer, nunca deveria morrer. Mas nos esquecemos de que Deus está no controle de tudo, Sua mente divina que projetou todo o universo está no lugar onde sempre esteve e sempre vai estar, se preocupando com o homem. Querendo fazer-nos entender que aquilo que vemos nem sempre será aquilo que enxergamos.
Reconheço; a mente humana, minha mente, sua mente e a mente de Saramago são muito limitadas para entender certas coisas. A garotinha Isabella , sua inocência e fragilidade atacadas por um ser humano covarde que não entendeu os propósitos do criador para sua vida, e escolheu o mal como regra de conduta, me leva a ter vontade de chorar. Os milhões de mortos inocentes em tantas tragédias causam-nos repulsa. Quando penso na mãe de Isabella (como pai que sou), tento imaginar o sofrimento e a dor que a invadiram aquele instante. Creio que ela tenha vivido o ápice de seu sofrimento.

Jesus, o filho de Deus, no ápice de seu sofrimento clamou: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste ?” Naquele momento, Ele sentiu-se separado de Deus, enquanto tomava sobre si todo mal da humanidade, Ele, por um instante me parece , deixou de ser Deus por não poder ter parte em todo esse mal voluntário do ser humano, mas logo em seguida disse: “Está consumado”...Tudo estava cumprido, sua missão estava completa. Fez o que tinha que ser feito. E assim, a história nos conta que Ele foi á direita do Pai.
Talvez essa seja a frase ecoando na cabeça da Mãe de Isabella, “Deus meu, Deus Meu, porque me desamparaste”...Talvez ecoe nas mentes de tantos outros como Saramago através da pergunta:”Deus onde está você !”

Deus conta com o ser humano, para estabelecer o bem e a verdade no meio onde vive. O mal moral, presente no coração do ser humano não é um atributo divino nem sequer faz parte de sua criação. É fruto da escolha que o homem faz entre o certo e errado e talvez esse preço seja alto demais para mãe de Isabella , para mim e você, e talvez não seja hoje que ela e nenhum de nós entendamos isso perfeitamente, em sua plenitude. Mas Deus existe, e estava presente em cada uma dessas situações !
Li um livro do qual tirei algumas frases contidas nesse texto, e do qual tiro também o título para deixar como conclusão e resposta à Saramago e todos aqueles que tem negado algo tão evidente :

“Não tenho fé suficiente para ser ateu !” (Norman Geisler e Frank Turek)
Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, tem sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis. Romanos 1:20


José B. Silva Junior

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, sua opinião é importante...

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails