Crises (em grego: Χρύσης, transl. Khrýsēs)
A crise pode ser definida como uma fase de perda, ou uma fase de substituições rápidas, em que se pode colocar em questão o equilíbrio da pessoa. A evolução de uma crise pode ser benéfica ou maléfica, dependendo de fatores que podem ser tanto externos, como internos. Toda crise conduz necessariamente a um aumento da vulnerabilidade, mas nem toda crise é necessariamente um momento de risco. A crise também é vista como uma ocasião de crescimento. A evolução favorável de uma crise, conduz a um desenvolvimento benéfico, à criação de novos equilíbrios, ao reforço da pessoa e da sua capacidade de reação a situações menos agradáveis.
Os conflitos entre várias de nossas crenças ou entre essas crenças e um conhecimento estabelecido, indicam a principal circunstância em que somos levados a algumas mudanças em nossas atitudes, e quando uma crença contradiz outra ou parece incompatível com outra, ou quando aquilo em que sempre acreditamos é contrariado por outra forma de conhecimento, entramos no que também podemos chamar de crise.
Algumas pessoas se esforçam para fazer de conta que não há problema algum e vão levando a vida como se tudo estivesse “muito bem, obrigado”. Outras, porém, sentem-se impelidas a indagar qual é a origem, o sentido e a realidade daquilo em que acreditamos.
É assim então, que o conflito entre minha vontade e as regras de minha sociedade me levam a colocar a seguinte questão: Sou livre quando quero ou faço algo que contraria minha sociedade, ou sou livre quando domino minha vontade e a obrigo a aceitar o que minha sociedade determina? Ou seja, sou livre quando sigo minha vontade ou quando sou capaz de controlá-la? Ora, para responder a essa questão, precisamos fazer outras perguntas, mais profundas. Temos de perguntar “O que é a liberdade?”, “O que é a vontade?”, “O que é a sociedade?”, “O que são o bem e o mal, o justo e o injusto?”
O que está por trás de tais perguntas? O fato de que estamos mudando de atitude. Quando o que era objeto de crença aparece como algo contraditório ou problemático e por isso se transforma em indagação ou interrogação, estamos passando da atitude passiva e costumeira de aceitar as idéias como são apresentadas á nós, à atitude ativa de querer conhecer mais sobre nossas convicções.
Seria como ordenar de maneira clara tudo aquilo que faz parte de nossas crenças. Imaginemos, portanto, alguém tomando a decisão de não aceitar as opiniões estabelecidas e começasse a fazer perguntas que os outros julgam estranhas e inesperadas. Em vez de “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?” perguntasse “O que é o tempo?”. Em vez de dizer “Está sonhando” ou “Ficou maluco”, quisesse saber “O que é o sonho, a loucura, a razão?”.
Isso tudo se dá quando temos por meta, estabelecer uma fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. Onde:
Fundamento: vem do latim e significa “uma base sólida” ou “o alicerce onde se pode construir com segurança.
Teoria: vem do grego, onde significava: “contemplar uma verdade com os olhos do espírito”
Crítica: vem do grego e significa “a capacidade para julgar, discernir e decidir corretamente, o exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem pré-julgamento.
Essa atividade de mudança de atitude e também a crise passa então por uma análise (dos conhecimentos, da ciência, da religião, da arte, da moral, da política e da história), uma reflexão (volta do pensamento sobre si mesmo em busca da essência que nos forma, para reconhecer-se como capacidade para o conhecimento, a linguagem, o sentimento e a ação) e uma crítica (avaliação racional para discernir entre a verdade e a ilusão, a liberdade e a servidão.) de tudo aquilo que um dia adotamos como modo correto de ver a vida.
Penso, logo existo... entro em crise.
Talvez crise semelhante a de Pilatos frente a Jesus quando Este lhe disse que era Rei e havia vindo ao mundo para dar testemunho da verdade. A crise de Pilatos demonstrou-se na pergunta que fez na sequência:“Que é a verdade?” (Jo 18,37-38).
Como nos libertar dessa crise? O próprio Jesus nos orienta quando se dirige a alguns discípulos seus na narrativa de João: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará...”
Seguimos então o caminho, ora com crises, ora sem elas,... mas sempre em busca da verdade que liberta, em todos os sentidos.
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