Abaixo transcrevo o artigo de autoria do companheiro blogueiro Balnires Junior. Eu não tinha conhecimento de algumas das relações citadas entre a maçonaria e os evangélicos... principalmente os batistas.
No mínimo interessante.
Boa leitura !
Adaptado por Balnires Júnior – http://balniresjunior.blogspot.com
Definindo a Maçonaria
A Maçonaria é uma Ordem Universal formada de homens de todas as raças, credos e nacionalidades, acolhidos por suas qualidades morais e intelectuais e reunidos com a finalidade de construírem uma Sociedade Humana, fundada no Amor Fraternal, na esperança com amor à Deus, à Pátria, à Família e ao Próximo, com Tolerância, Virtude e Sabedoria e com a constante investigação da Verdade e sob a tríade LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE, dentro dos princípios da Ordem, da Razão e da Justiça.
Diferente do que muitas pessoas pensam a Maçonaria não é uma sociedade secreta, no sentido como tal termo é geralmente empregado. Uma sociedade secreta é aquela que tem objetivos secretos e oculta a sua existência assim como as datas e locais de suas sessões. O objetivo e propósito da Maçonaria, suas leis, história e filosofia tem sido divulgados em livros que estão a venda em qualquer livraria. Os únicos segredos que a maçonaria conserva são as cerimônias empregadas na admissão de seus membros e os meios usados pelos Maçons para se conhecerem.
A Maçonaria não é contra qualquer religião. Ela ensina e pratica a tolerância, defendendo o direito do homem praticar a religião de seu agrado.(Assim como a declaração de princípios batistas*). A Maçonaria não dogmatiza as particularidades do credo e da religião. Ela reconhece os benefícios e a bondade contidas em todas as religiões.
A Maçonaria não é ateísta nem agnóstica. O ateu é aquele que diz não acreditar em Deus enquanto o agnóstico é aquele que não pode afirmar, conscientemente, se Deus existe ou não. Para ser aceito e ingressar na Maçonaria, o candidato deve afirmar a crença em Deus.
A ordem conta com cerca de seis milhões de membros atualmente, e tem uma longa história entrelaçada com o protestantismo – especialmente na Grã-Bretanha, na Europa, nos Estados Unidos (com 4 milhões de membros) e no Brasil. Ao mesmo tempo, a fraternidade orgulha-se de contar com membros das elites do mundo, seja no passado ou no presente: desde Voltaire, Mozart, Garibaldi e Goethe, até vários nobres da Europa - incluindo o rei da Suécia e a Rainha Elizabete II (Grande Patronesa da Loja Britânica) - além de catorze presidentes dos Estados Unidos (Johnson, Ford, Reagan etc.). George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, era um Grão-Mestre maçom, sendo considerado um dos adeptos mais fiéis de todas as treze colônias de sua época. Não é por acaso que a cédula do dólar americano, que tem o retrato de Washington, traz a pirâmide, o esquadro, a águia e outros símbolos maçônicos.
Portanto, podemos definir claramente a Maçonaria como sendo uma organização mundial de homens que, utilizando-se de formas simbólicas dos antigos construtores de templos, voluntariamente se uniram para o propósito comum de se aperfeiçoarem na sociedade. Admitindo em seu seio, homens de caráter, sem consideração à sua raça, cor ou credo, a Maçonaria se esforça para constituir uma liga internacional de homens dedicados a viverem em paz, harmonia e afeição fraternal.
Primeiro Estatuto da Organização
Em 1723 foi publicado o primeiro estatuto da novel organização (A Grande Loja de Londres) conhecido mundialmente como "Constituições de Anderson" por ter sido compilada e redigida pelo Reverendo Presbiteriano James Anderson (1630-1739). Outros dizem ser as "Constituições" obra de seu prefaceador, o Reverendo Anglicano João Teófilo Desaguliers (1683-1744) de família francesa que emigrou para a Inglaterra após a revogação do Edito de Nantes.
No Brasil, a estrutura maçônica ficou bem definida com a fundação do Grande Oriente do Brasil em 1822, sendo o Imperador Dom Pedro I o primeiro Grão-Mestre da maçonaria brasileira.
A influência Protestante
É inegável que a Maçonaria Moderna foi organizada sob influencia protestante. Os redatores do primeiro Estatuto (Anderson e Desaguliers) por suas crenças, não poderiam deixar de introduzir princípios evangélicos na nova organização, principalmente devido ao fim a que ela se destinava. Provavelmente devido a tais princípios, a Maçonaria se desenvolveu muito nos países onde predominava a influencia protestante (Inglaterra. Alemanha e Estados Unidos), propagando-se depois para o resto do mundo.
A Maçonaria e os Batistas no Mundo e no Brasil
A maior igreja evangélica dos Estados Unidos da América, a Convenção Batista do Sul, responsável através da Junta de Richmond pela implantação do trabalho batista no Brasil, possui um grande número de membros maçons.
Os emigrados dos EUA que se estabeleceram em Santa Bárbara em São Paulo fundaram em 10/09/1871 a Igreja Batista em Santa Bárbara, a primeira Igreja Batista estabelecida em solo brasileiro (Pr. Richard Ratcliff), fundaram também em 1874 a Loja Maçônica "George Washington", onde se encontravam cerca de oito batistas sendo que pelo menos cinco deles foram também fundadores da Primeira Igreja, entre eles estava o Pr. Robert Porter Thomas .
O Pr. Thomas foi interino por diversas oportunidades tanto na Primeira Igreja quanto na Igreja da Estação (2a), fundada em 02/11/1879 (Pr. Elias Hoton Quillin). O pastorado interino do Pr. Thomas nas duas Igrejas somou cerca de 25 anos de profícuo trabalho, sendo o que mais tempo pastoreou tais Igrejas.Em 12/07/1880, a pedido da Igreja da Estação, foi formado um Concílio reunindo as duas Igrejas, para Recepção e Consagração ao Ministério do Irmão Antônio Teixeira de Albuquerque, tendo sido batizado pelo Pr. Thomas. Foi moderador do Concílio que se realizou no salão da Loja Maçônica, o Pr. Ouillin, conforme se descreve na carta subscrita pelo moderador e pelo secretário do Concílio ao Foreign Mission Board of fhe Soufhern Baptist Convention (Richmond, VA., U. S.A. ). Interessante observarmos que o Primeiro Pastor Batista Brasileiro, além de ter sido batizado por um Pastor que era Maçom foi ainda consagrado ao Ministério da Palavra no salão da Loja Maçônica. É importante recordar que a Igreja em Santa Bárbara era uma igreja missionária. Foi ela que insistiu e conseguiu, que a "Junta de Richmond" nomeasse missionários para o Brasil, estabelecendo-se então em Sta. Bárbara a "Missão Batista no Brasil". O primeiro missionário foi o Pr. Ouillin (1878), com sustento próprio. Seguiram-se, sustentados pela "Junta": Bagby (1880), Taylor (1882), Soper (1885), Putheff (1885) e outros sendo que Bagby, Soper e Putheff foram pastores da Igreja em Sta. Bárbara, que tinha entre seus membros, um expressivo grupo de maçons.
Missionário Salomão Ginsburg
Em 1921, Salomão Luiz Ginsburg, Missionário da Junta de Missões Estrangeiras de Richmond, publicou o seu livro "Um Judeu Errante no Brasil ", sua autobiografia. Encontra-se em algumas partes de seu relato a descrição de sua condição de Maçom. Nas páginas de número 81 a 83, o missionário Salomão Ginsburg narra um contratempo que passou na cidade de Queimadas interior da Bahia e diz ele, "... Coloquei o meu harmônio no lugar mais central da feira e comecei a tocar alguns hinos... Pondo-me de pé sobre um tamborete comecei a explicar-lhes a minha missão e objetivo, (...) anunciar-lhes o grande dom de Deus: um Salvador, cujas dádivas eram de graça e cujas bençãos concedidas a quem lhas pedisse... o colportor chamou-me a atenção para um movimento... parentes do padre do lugar estavam concitando os fanáticos contra mim, dizendo-lhes que eu era o anticristo há muito esperado... Diversas pessoas tiraram os seus punhais e os afiavam nas palmas das mãos, e os apontavam para mim, como se disessem: 'isto fará ao senhor muito bem!' Oh! como orei, pedindo ao Senhor que me mostrasse a escapatória, não tanto por minha causa, mas por causa do homem que tão bondosamente deixara sua esposa e filhos e viera comigo ajudar-me no trabalho... Ele me olhou várias vezes com os olhos rasos de lágrimas, como se dissesse: 'Estamos perdidos!' Como um raio de luz, veio-me o pensamento de fazer o sinal de perigo da Maçonaria. Seria possível que naquele lugar houvesse um irmão maçom? Tentei o sinal, e pareceu-me como se alguém estivesse esperando por isso, pois, em menos de cinco minutos, cerca de meia dúzia de homens se aproximou de mim e me rodeou e me disse que me veio buscar para a sua casa. Logo fiquei livre e seguramente instalado em uma das melhores residências da cidade, protegido por soldados, com suas carabinas de prontidão. Agradeci ao meu Pai Celeste pelo livramento que me deu tão maravilhosamente daquela multidão enfurecida."
Foi Ginsburg o editor do Cantor Cristão, hinário das Igrejas Batistas do Brasil, inicialmente com 16 hinos em 1891 e na edição atual do referido Cantor ele aparece como Autor ou Tradutor de 102 hinos. O Pr. Ebenezer Soares Ferreira (veja O Jornal Batista nº 30 de 24/07/94), destaca que Ginsburg foi o fundador, na cidade de São Fidélis no Estado do Rio de Janeiro, da Loja Maçônica Auxílio à Virtude (02/07/1894) e da "Egreja DE CHRISTO, CHAMADA BATISTA" (27/07/1894) que foi a primeira Igreja Batista em São Fidélis. Segundo o mesmo autor (9, pg. 64), o primeiro Templo Batista construído no Brasil, foi o da Primeira Igreja Batista de Campos, edificado sob o pastorado de Salomão Ginsburg e com a colaboração financeira dos Maçons. Ginsburg fundou, em 1902, o Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, e foi um porta-voz da necessidade dos batistas brasileiros organizarem-se em uma Convenção Nacional, o que aconteceu em 1907 com a criação da centenária Convenção Batista Brasileira.
O Missionário Salomão Luiz Ginsburg foi membro de diversas lojas maçônicas as quais destacamos: "Duke de Clarence Lodge" na cidade de Salvador, BA; Restauração Pernambucana em Recife, PE; Progresso em Campos, RJ; Auxilio a Virtude em São Fidélis, RJ e, na jurisdição da Grande Loja Maçônica do Estado do Espírito Santo é patrono da Loja "Salomão Ginsburg n° 3".
José de Souza Marques
O Pastor José de Souza Marques, que foi Presidente da Convenção Batista Carioca e da Convenção Batista Brasileira, tendo em 1940, na Convenção da Bahia, organizado a Aliança dos Pastores Batistas Brasileiros, que mais tarde tomou o nome de Ordem dos Ministros Batistas do Brasil, permanecendo em sua Presidência até 1962, cujo fruto todos conhecem, exerceu cargos importantes na administração maçônica, tendo sido inclusive presidente, por muito tempo, do Supremo Tribunal de Justiça Maçônica. Ainda hoje, a única foto existente no Salão do Conselho do Palácio Maçônico do Lavradio, é a do Pr. Souza Marques. No mesmo Palácio, a sala de Tribunal de Justiça tem o nome de José de Souza Marques. Foi também Membro Efetivo do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito, encontrando-se em sua sede em exposição, um retrato pintado a óleo do Pastor Souza Marques.Inúmeros outros Homens de Fé, verdadeiros cristãos, inclusive batistas de relevância na Denominação, têm sido maçons sem encontrar incompatibilidades entre a Fé Cristã e a prática Maçônica.
Os adversários da Maçonaria
Existem pessoas que têm razões para se oporem à Maçonaria. Todos os que defendem princípios contrários aos princípios maçônicos são adversários da maçonaria. Entre tais destacamos: Os Papas da Igreja Romana, os sectários contrários ao livre arbítrio, os totalitários (nazistas, comunistas, membros da TFP e outros); os fanáticos e muitos outros.A perseguição aos Maçons, devido aos princípios que defendem, é antiga.
O primeiro documento encontrado combatendo a Maçonaria é uma Capitular de Carlos Magno do ano de 779, proibindo a reunião de Guíldas. As autoridades laicas alegavam que os associados se reuniam em banquetes periódicos a fim de se entregarem ao vício da embriaguez, e as autoridades eclesiásticas afirmavam que a perseguição que moviam contra as Guildas era por causa do juramento. Diziam-se preocupadas pela salvação da alma do jurador no caso dele perjurar-se. Na realidade, tentavam com semelhantes pretextos especiosos, impedir o funcionamento das Gui1das temidas politicamente (8, pg. 46).
A perseguição dos Papas da Igreja Romana contra a Maçonaria começou pela edição da Bula "II Eminenti" (6, pg. 379) em 28 de abril de 1738, por Clemente XII e até 1907 seguiram-se mais 25 documentos entre "Bulas", "Encíclicas" e outros, de ataque à Maçonaria.Em 18/05/1751, o papa Bento XIV publicou a Bula "Providas" (6, pg. 381), onde, referindo-se à "II Eminenti", declarou: "Finalmente, entre as causas mais graves das supraditas proibições e ordenações enunciadas na constituição acima inserida a primeira é: Que nas sociedades e assembléias secretas, estão filiados indistintamente homens de todos os credos; daí ser evidente a resultante de um.grande perigo para a pureza da religião Católica." Seguem-se mais cinco causas; proclamando-se contra a obrigação do segredo, a forma de compromisso, a liberdade de reunião e outras. Conclama os Bispos, Superiores, Prelados e Ordinários, a não deixarem de solicitar o poder secular, para a execução das referidas regras. Foi assim decretada a "Inquisição" contra os Maçons, pela oposição papal à Instituição, com as conseqüências que a história amplamente registra.
* Os batistas consideram como inalienável a liberdade de consciência, a plena liberdade de religião de todas as pessoas. O homem é livre para aceitar ou rejeitar a religião; escolher ou mudar sua crença; propagar e ensinar a verdade como a entenda, sempre respeitando os direitos e convicções alheias; (...) Cada pessoa é livre perante Deus, em todas as questões de consciência, e tem o direito de abraçar ou rejeitar a religião, bem como de testemunhar de sua fé religiosa, respeitando os direitos dos outros. (Principios Batistas – Item 3 Liberdade)
REFERËNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1 - Aslan, Nicola, A Maçonaria Operativa, Editora Aurora Ltda, Rio de Janeiro (RJ), 1979.
2 - Constituições dos Franco-Maçons de 1723 (As), Reprodução do original e tradução de João Nery Guimarães, Editora A Fraternidade, São Paulo (SP), 1982.
3 - Autores Diversos, O Cantor Cristão, JUERP, Rio de Janeiro (RJ), 1971,4a. edição com música.
4 - Oliveira, Betty Antunes de, Centelha em Restolho Seco, Edição da Autora, Rio de Janeiro (RJ), 1985.
5 - Ginsburg, Salomão Luiz, Um Judeu Errante no Brasil, Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro (RJ), 1970, 2a. edição.
6 - Aslan, Nicola, A História da Maçonaria, Editora Espiritualista Ltda, Rio de Janeiro (Rl), 1959.
7 - Ferreira, Ebenezer Soares, História dos Batistas Fluminenses , Rio de Janeiro (RJ), Edição do Autor, s.d
8 - Aslan, Nicola, Histórica Geral da Maçonaria - Período Opera ivo, Gráfica e Fditora Aurora Ltda, Rio de Janeiro (RJ), 1979.
9 - Reimer, Haroldo, Maçonaria - A resposta a uma carta. Edições Cristãs, Ourinhos (SP)- s.d.
10 - Pereira, Carlos Eduardo, A Maçonaria e a Igreja Cristã, Livraria Independente Editora, São Paulo (SP), 1945, 3a edição.
11- Lyra,.Jorge Buarque, A Maçonaria e o Cristianismo, Editora Espiritualista Ltda, Rio de Janeiro(RJ), 1971, 4a edição.
12 - Prober, Kurt, A História do Supremo Conselho do Grau 33 o Brasil, Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro (RJ), 1 981.13 - Pereira, I. Reis, A História dos Batistas no Brasil, JUERP, Rio de Janeiro (RJ), 1982