Atingidos pelos Reflexos...

quinta-feira, 22 de junho de 2017

O Necessário, Somente o Necessário...



Fosse o religioso sincero com os outros e com ele mesmo, diante de tudo que essa religião moderna tem nos apresentado - seja nas esquinas de cada cidade, seja dentro dos lares através da mídia rendida pelo capital do mercado do “sagrado” - diria e preferiria que essa religião se transformasse em diversão, em cinema, em teatro, com o que quero referir-me, àquele espaço em que os religiosos vão para desopilar o fígado, para se emocionar, para sorrir, para chorar, para entregar-se a todos os sonhos, mas, quando acaba a seção, voltam para a vida real, e deixam cinema e teatro lá no cinema e no teatro, e vão viver, com e como os demais, que não foram nem vão a cinema e teatro... Sem trazer o mito e as alegorias da religião como representação da realidade.

Seria utópico pensar que a tecelagem religião pudesse facilitar a horizontalização das pessoas, permitindo relações mais saudáveis com a vida e com as demais entidades que se relacionam. Utópico, pois ela como máquina, como instrumento de intervenção social,  há de usar, cruzar os fios, e, por fim usar as relações para a produção de um item padrão, em escala, e, para um mercado utilitarista. A religião é funcional para aquele que se beneficia da própria, que através do discurso domesticado do sagrado convence e enlouquece a mente com uma proposta de ser a argamassa necessária para a unidade do ser. Aliás, ela define o que é ser ou não ser....

Uma boa ilustração sobre o bom uso da religião está presente num personagem de desenho animado dos quais os mais “maduros” certamente vão se lembrar... Mogli da Disney. Em uma das passagens do desenho, o que acontece nos faz pensar que a religião deveria ser algo próximo daquilo: Depois que o Mogli deixa a floresta e vai viver na aldeia humana com todas as suas vicissitudes, trabalhos, etc... ele começa a ficar com saudade dos seus "amigos" da floresta (o urso Balu, a pantera, os macacos, etc...). Aí de vez em quando ele cruza o rio, sai da aldeia e volta para a floresta para dançar com o urso, a pantera e os macacos e cantar ("necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais..."). Depois que ele se desopila ele cruza o rio de volta para a aldeia e começa a levar a vida do cotidiano, a inevitável realidade...

Acho que o religioso, isto é, quem sai de casa e vai ao culto em um templo, deveria ir para se divertir e se agradar. Tudo ali deveria ser feito para as pessoas - as pessoas - se divertirem e se agradarem, aprenderem, também, claro, mas estou falando de um aspecto. Porque essa história de dizer que tem que ir para a igreja para agradar a Deus é uma embromação: agrada-se o sistema litúrgico, clerical, doutrinário, mítico, alegórico. Deus tem nada com isso...

E então; já que se trata sempre de agradar a pessoas, acho que quem vai devia ir para se agradar e agradar os amigos. E então, se houver algum Deus olhando, talvez fique contente de ver pessoas se esforçando para serem felizes... O resto me parece mania de sacerdotes... Quando a religião é simplesmente casa de acolhimento, sem dedo na cara, sem a hipocrisia das denúncias do pecado em nome de Deus, essa patifaria hipócrita - ela pode ser um bom lugar.

Porque a religião do jeito que está aí... essa de manipular, controlar, usar, (você me dirá que há exceções, e eu direi que talvez não), me faz pensar que, mais vale uma tarde à sombra de uma bela árvore, do que um culto em uma igreja...


quinta-feira, 1 de junho de 2017

Poesia de Osvaldo Luiz Ribeiro


 
Acabo de ler uma poesia de Osvaldo Luiz Ribeiro que fala da vida... Vida digna de ser vivida... Porém doída, sofrida. Porque podemos, hora ou outra, aqui e ali, dizer que a vida é bela, que temos felicidades; mas não podemos negar a realidade de que a vida é dura... Dura como ela é, sempre foi e será. Fazer o fogo queimar, a chama arder... Trazer luz aos compartimentos sombrios da existência faz com que a vela se derreta, se deforme, se seque... Para um dia então, a chama acabar. Se assim não for, inútil é, a vela ser quem é...

“Cera e pavio. Posso morrer cera e pavio. Enterram-me, cera e pavio. Cera velha, pavio endurecido. Imprestável na vida. Imprestável na morte. Vela apagada, pra quê? Promessa na gaveta. Vela enterrada, pra quê? Desprezo de vermes. Ou posso acender-me. Queima. Dói. Gasta-me. Mata-me. Mas nascer não é outra forma de morrer? Viver, morrendo? A vida, afinal, não é a fornalha da morte, cujo vestígio é a luz, se houver luz, se deixar vestígio? Queimo, pois. E a luz que queimo ilumina-me os olhos. Lágrimas quentes, pingando sobre meu caminho.

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