Fosse o religioso sincero com os outros e com ele mesmo, diante de tudo
que essa religião moderna tem nos apresentado - seja nas esquinas de cada
cidade, seja dentro dos lares através da mídia rendida pelo capital do mercado
do “sagrado” - diria e preferiria que essa religião se transformasse em
diversão, em cinema, em teatro, com o que quero referir-me, àquele espaço em
que os religiosos vão para desopilar o fígado, para se emocionar, para sorrir,
para chorar, para entregar-se a todos os sonhos, mas, quando acaba a seção,
voltam para a vida real, e deixam cinema e teatro lá no cinema e no teatro, e
vão viver, com e como os demais, que não foram nem vão a cinema e teatro... Sem
trazer o mito e as alegorias da religião como representação da realidade.
Seria utópico pensar que a tecelagem religião pudesse facilitar a
horizontalização das pessoas, permitindo relações mais saudáveis com a vida e
com as demais entidades que se relacionam. Utópico, pois ela como máquina, como
instrumento de intervenção social, há de
usar, cruzar os fios, e, por fim usar as relações para a produção de um item padrão, em escala, e, para um mercado utilitarista. A religião é funcional para aquele que se beneficia da própria, que através do discurso domesticado do sagrado convence e enlouquece a mente com uma proposta de ser a argamassa necessária para a unidade do ser. Aliás, ela define o que é ser ou não ser....
Uma boa ilustração sobre o bom uso da religião está presente num
personagem de desenho animado dos quais os mais “maduros” certamente vão se
lembrar... Mogli da Disney. Em uma das passagens do desenho, o que acontece nos
faz pensar que a religião deveria ser algo próximo daquilo: Depois que o Mogli
deixa a floresta e vai viver na aldeia humana com todas as suas vicissitudes, trabalhos,
etc... ele começa a ficar com saudade dos seus "amigos" da floresta
(o urso Balu, a pantera, os macacos, etc...). Aí de vez em quando ele cruza o
rio, sai da aldeia e volta para a floresta para dançar com o urso, a pantera e
os macacos e cantar ("necessário, somente o necessário, o extraordinário é
demais..."). Depois que ele se desopila ele cruza o rio de volta para a
aldeia e começa a levar a vida do cotidiano, a inevitável realidade...
Acho que o religioso, isto é, quem sai de casa e vai ao culto em um
templo, deveria ir para se divertir e se agradar. Tudo ali deveria ser feito
para as pessoas - as pessoas - se divertirem e se agradarem, aprenderem,
também, claro, mas estou falando de um aspecto. Porque essa história de dizer
que tem que ir para a igreja para agradar a Deus é uma embromação: agrada-se o
sistema litúrgico, clerical, doutrinário, mítico, alegórico. Deus tem nada com
isso...
E então; já que se trata sempre de agradar a pessoas, acho que quem vai
devia ir para se agradar e agradar os amigos. E então, se houver algum Deus
olhando, talvez fique contente de ver pessoas se esforçando para serem felizes... O resto me parece mania
de sacerdotes... Quando a religião é simplesmente casa de acolhimento, sem dedo
na cara, sem a hipocrisia das denúncias do pecado em nome de Deus, essa
patifaria hipócrita - ela pode ser um bom lugar.
Porque a religião do jeito que está aí... essa de manipular, controlar,
usar, (você me dirá que há exceções, e eu direi que talvez não), me faz pensar
que, mais vale uma tarde à sombra de uma bela árvore, do que um culto em uma
igreja...