Pr. Natanael Gabriel da Silva
Gostaria de começar perguntando sobre um chavão que se escuta em cada esquina de igreja, chamado de “crescimento espiritual”. Afinal de contas, o que é isto?
É claro que esta pergunta não tem uma única resposta, pois “crescimento espiritual” pode ter muitos sentidos, já que a palavra “espiritual” não tem limites e é ela que dá a qualidade ao crescimento. Isto quer dizer que uma pessoa, pertencente a uma igreja carismática, vai achar que o “crescimento espiritual” é a capacidade que uma alguém tem de trabalhar, dominar e aplicar os dons espirituais, voltados para o sobrenatural, como curas, exorcismos e por ai vai. Neste caso, “crescimento espiritual” é ir o mais profundo possível naquilo que se traduz no mais nobre ideal da referida igreja. É também fator de status. O domínio de determinado campo que permeia uma comunidade, quando conquistado por alguém, torna-se extremamente valorizado pelo grupo. Primeiro porque consolida e confirma o discurso do grupo, e depois porque “crescimento” é algo que empurra para “cima” uma vez que ninguém tem o desejo de “crescer para baixo”.
Vamos em frente, não para cima. Se a igreja tiver uma inclinação para a valorização do texto bíblico e da doutrina, “crescerá espiritualmente” aquele que conseguir colocar em prática o melhor possível, tanto a doutrina como o texto. Normalmente a avaliação do crescimento migra para a vida ética. Ou seja, só é possível avaliar o crescimento espiritual de uma pessoa a partir de sua prática cristã. Este tipo de entendimento está mais próximo das nossas igrejas batistas que enfatizam o conhecimento. Também não é necessário dizer que há uma certa tendência a uma postura legalista, ou seja, começa-se a pensar na vida espiritual pelos resultados sem haver atenção na motivação. Neste caso já estamos conversando sobre o judaísmo, pois para eles “crescimento espiritual” tinha um pouco mais, um pouco menos, este sentido: conhecer e aplicar a lei de forma perfeita.
É claro que nem tudo se resume a um “crescimento espiritual” com vistas ao sobrenaturalismo ou ao legalismo. Isto não quer dizer, de forma alguma que não haja sobrenaturalismo no cristianismo, ou que não devemos nos preocupar com a nossa conduta ética. Você sabe que não é isto que estou querendo dizer, pois um Evangelho sem estas duas coisas não explicaria nem a Ressurreição de Jesus (sobrenatural), e nem a vida transformada que temos nele (sermos novas criaturas). É por esta razão que buscar o sobrenaturalismo ou o legalismo são duas coisas fascinantes e podem se tornar no padrão de medida de uma vida nas mãos de Deus.
Vamos voltar ao assunto. Quando estimulo você a pensar no seu “crescimento espiritual”, o que você pensa? Bem, talvez você pense assim: preciso melhorar a minha freqüência na Igreja; ou ainda: preciso ser mais pontual nos dízimos; ainda mais: preciso exercer melhor a minha função e fazer mais coisas. Estes seriam um tipo de “crescimento espiritual” que tem ênfase na Igreja, só que é evidente que a vida cristã não se resume ao que você faz nela. Você tem compromissos e está num mundo com o qual precisa conviver, responder, testemunhar e evangelizar. Ou seja, crescimento espiritual deveria ser alguma coisa além disto, embora tudo isto faça parte de uma vida nas mãos de Deus.
Voltamos a estaca zero. Parece que a gente não consegue entender direito o que significa algo que é fundamental na vida cristã: o que é crescer espiritualmente? Quem não sabe o que é uma coisa, não tem nem noção em qual estrada caminhar, pois seria sair para lugar nenhum.
Espero que você não exija uma resposta definida sobre crescimento espiritual nesta curta reflexão. A questão é que, por mais simples que possa parecer, o “crescimento espiritual”, não é necessariamente “crescimento”, isto é, não é “para cima”. Talvez a palavra que melhor possa indicar o seu sentido é “servo”. Servo não cresce, servo se submete. Servo não “determina”, mas recebe determinação. Servo não toma posse, porque não tem nada, usufrui a posse daquele que tudo conquistou por ele. Tudo continua sendo dele, do Senhor. Caso contrário, o Senhor é que se tornaria servo. O Senhor, para continuar Senhor, necessita manter o senhorio, e o servo, para se tornar servo, tem que ser mais servo ainda. Quanto mais servo se torna o servo, mais o Senhor torna-se Senhor. Ora neste caso, “crescer espiritualmente” não é “para cima”, mas é em certo sentido “para baixo”. Ou seja, ao que parece se você desejar saber se “cresceu” basta “avaliar” o quanto mais de servo você se tornou, e o quanto de mais senhorio o Senhor depositou sobre a sua vida.
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