Aos leitores do blog meu pedido de desculpas por não o atualizar nos últimos tempos. Passo por uma fase de reflexão sem escrita. Diria que uma fase em que “me recolho à caverna...” Hoje, darei um passeio fora dela... Se é que me entendem...
Incentivado pelo pastor, filósofo, professor e amigo “Pita”, tentei em postagens anteriores através da dialética kantiniana, reunir alguns argumentos que explicassem a utilidade da Teologia. Prometi a mim mesmo, voltar a pensar mais um pouco sobre o assunto.
Eis então que me deparo no último sábado com o texto escrito por Silvino Santiago no jornal “Estado de São Paulo” que tem por título: “ O filósofo vai à Igreja”, onde consta o relato do filósofo Jürgen Habermas, que havia comparecido ao velório do dramaturgo suíço Max Frisch na igreja de S. Pedro em Zurique:
“Agnóstico que rejeitava qualquer profissão de fé, Max Frisch (conhecido dos brasileiros pela peça “Biedermann e os Incendiários”) se sentia desconfortável frente às cerimônias fúnebres que desconsideram a religião. Pela escolha do local onde seu corpo seria velado, declarava publicamente que a idade moderna iluminista não tinha conseguido encontrar um substituto adequado para o modo religioso de lidar com o rito de passagem que dá por finda a vida."
A atitude de Frisch, que escolhe um templo religioso para ser velado, por sua paradoxalidade, provoca no filósofo Habermas o interesse pelo assunto e a abertura do curto ensaio intitulado: “Um Entendimento do Que Está Faltando” – (An Awareness of What Is Missing).
Na visão teológica, esse ensaio talvez poderia ser resumido na idéia de que: “Falta à razão algo que poderia ter, mas não tem e por que anseia dolorosamente.”
Tentando achar respostas à esse anseio, um outro filósofo de tempos mais remotos, Platão defendia o conceito do idealismo. Reavivado nos tempos modernos por Hegel - O idealismo na filosofia não é o estado de espírito da pessoa cheia de ideais. Entre outros entendimentos fico com o de que é a teoria segundo a qual a realidade pertence à natureza da mente ou da idéia. Para tentar exemplificar, tomemos uma cadeira. É algo real, material, concreto. Mas antes de existir como objeto concreto existiu na mente do carpinteiro. Usou-se o idealismo também para argumentar-se em favor da existência de Deus... Só podemos pensar no que existe. Se temos a idéia de Deus, existe Deus. Aliás, este era o ponto de vista de Descartes, a teoria prioriza a idéia como sendo a verdade. O idealismo platônico também pode ser visto em Hebreus 3.5: “Eles servem num santuário que é cópia e sombra daquele que está nos céus, já que Moisés foi avisado quando estava para construir o tabernáculo: ‘Tenha o cuidado de fazer tudo segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte’”.
Na dialética Kantiniana então, o idealismo foi reavivado, Seu pensamento foi a reação cristã “a várias correntes filosóficas que acabavam negando a razão humana e subvertendo a religião cristã”.
Com isto, Kant lançou as bases do idealismo moderno. Seu pensamento é amplo e complexo, mas uma frase sua, traduzida de várias maneiras, nos ajuda a entender seu pensamento: “Duas coisas me pressionam sobremaneira: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”. Com isto ele reconhecia o mundo exterior, que acessamos pelos sentidos, e o mundo interior, o das idéias, que está em nós. Protestante, Kant nos legou esta frase: “A existência da Bíblia é a maior bênção que a humanidade jamais experimentou”. Ele entendia que as verdades espirituais eram a Idéia, e que a experiência podia confirmar a Idéia. Para Kant, “Deus, a liberdade e a imortalidade, longe de serem demonstráveis, de constituírem o objeto de um raciocínio teórico, são postulados, hipóteses exigidas pela razão prática, isto é, que dizem respeito à ação moral, à regra a priori da moralidade. Aos olhos de Kant, a esperança de outra vida depois da morte e de um Deus justiceiro vincula-se com efeito, a uma exigência prática”. Ele não se livrou de uma Idéia necessária, o Absoluto, causa das idéias. Podemos a partir disso, concluir então que a razão tem um grande valor e deve ser a senhora, na Filosofia, mas não podemos dispensar uma Idéia, a Revelação. Revelação que o iluminismo deixou para trás quando criticou a explicação idealista-religiosa do mundo... A falta dessa Revelação, é o que deixava Max Frisch incomodado... A Revelação é o caminho ao entendimento do que está faltando que Habermas procura.
Tem a ver com a utilidade da Teologia como campo do conhecimento, levando ao homem informações sobre aquilo que ele não pode ver ou tocar. Na Teologia, a Revelação precisa ser trabalhada pela idéia.
Frisch tinha razão quando dizia que a idade moderna iluminista não fora capaz de lidar com a morte.
José B. Silva Junior
Fontes:
“O Estado de São Paulo” Prosa de Sábado – 10/07/2010 – Silvino Santiago
www.amai.jc.nom.br/Filo_Teo.html – Visão Panorâmica da História da Filosofia – Isaltino Gomes C. Filho
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