PAGURO
Clibanarius vittatus (Eupaguro, bernardo-ermitão, caranguejo-eremita)
Clibanarius vittatus (Eupaguro, bernardo-ermitão, caranguejo-eremita)
Superordem:Eucaria
Ordem:Decapoda
Família:Paguridae
Nome em inglês: marine hermit crab
Não conhecia o Paguro até alguns dias atrás, quando ao entrar no mar percebi algo estranho sob meu pé. Abaixei e peguei com cuidado a concha, dentro da qual ele se abrigava. De fora da concha conseguia enxergar suas patas em forma de garras, tentei tocá-las para ver sua reação, se sairia da concha...mas não , ele tentava se esconder ainda mais. Corri buscar a câmera para registrar aquele momento, achei o bicho muito exótico para que não guardasse uma lembrança sua.
O paguro vive junto de rochas e arrasta uma concha onde se abriga. Fora da concha ele fica vulnerável, pois seu abdome é desprovido de carapaça. Quando a concha em que se refugia fica pequena, ele procura outra maior e chega a matar o molusco do qual quer a concha.
Fiquei alguns minutos observando aquela estranha criatura, queria vê-la totalmente fora da concha, mas como o tempo estava passando e talvez a falta de água pudesse causar algum sofrimento á ela, segui o conselho de minha esposa, ainda que relutando um pouco e devolvi-a ao mar...
Passei as próximas horas refletindo sobre a descoberta...
Assim como aquele paguro, percebo que ás vezes possa estar vivendo dentro de mim mesmo, arrastando junto comigo para onde vou uma “concha protetora”, um tipo de carapaça, que faz com que as pessoas não tenham acesso á mim. Conversando com outras pessoas, penso que isso talvez seja mais comum do que parece. Talvez isso tenha a ver com medo...afinal, todos temos nossos medos. Aquele medo que faz você pensar no que vai dizer à pessoa ao lado, se será bem aceito pelo que falar, se vai continuar fazendo parte do “grupo” ao revelar sua posição sobre determinado assunto. Pode ser também medo de nos machucarmos, de ferir-nos, da necessidade que temos de nos proteger. Pode ter a ver também com nossas fraquezas, nossos defeitos, nossa parte “feia”, que não queremos e não gostamos de revelar a ninguém. Por tudo isso, temos nos escondido dentro de nossas conchas.
Há uma recomendação bíblica feita pelo apóstolo Tiago que vai nos indicar um caminho contrário a essa auto-reclusão:
“Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação.” Tiago 5:16
A confissão compartilhada tem o poder de levar-nos à restauração de nossos relacionamentos e como conseqüência temos a cura da alma.
Visitei nos últimos dias de minhas férias uma pessoa que carrega em seu corpo uma grave enfermidade. Gostaria de ter conversado mais com ela, queria poder dizer e também ouvir algumas palavras que pudessem fazer alguma diferença tanto para ela quanto para mim. Mas tive medo de transformar em palavras meus pensamentos, e percebi que ela estava com uma resistência maior que a minha à essa conversa, pois todos que a visitavam saíam com essa mesma impressão. Estávamos presos à nossas conchas, como aquele Paguro, com receio de expor nossas fraquezas, nossas partes “feias”.
Quando não conseguimos mostrar aos outros quem na realidade somos, corremos o grande risco de carregar fardos muito pesados,.... de perder o ânimo, o fervor, o entusiasmo, a motivação correta e até de adoecermos. Corremos também o risco de até atribuir a Deus a culpa por nosso estado de penúria espiritual e eventual doença física, achando-nos abandonados por Ele. Vêm o ressentimento a amargura (contra Deus e contra todos, pois esses sentimentos não precisam de objeto claro) e o desânimo, que é um princípio de infecção da alma. Daí, para uma úlcera, para uma queda das imunidades corporais, que desembocam em dezenas de enfermidades, o caminho é fácil: Ladeira abaixo.
Nossas “conchas”, comparadas às do paguro, podem a princípio indicar-nos proteção e segurança, mas na verdade podem-se tornar uma grande armadilha em nossas vidas. No relacionamos com as pessoas muitas vezes sem saber seus nomes... as tocamos sem que saibamos quem sejam. Nas igrejas muitas vezes os chamamos de “amado irmão”. Essa expressão assim entre aspas, não tem nada de afetivo nem fraterno: é um eufemismo, um subterfúgio. Nós o chamamos de “amado irmão”, por que não sabemos seu nome.
E como fazemos para escapar dessa armadilha sutil e terrível ? Como faço para me tornar conhecido , verdadeiro e transparente para Deus, para meus irmãos e para mim mesmo?
“Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação.” Tiago 5:17
Que Deus nos ajude...
José B. Silva Junior
Trechos desse texto extraídos do livro: Igreja e Sociedade – Rubem Martins Amorese
José B. Silva Junior
Trechos desse texto extraídos do livro: Igreja e Sociedade – Rubem Martins Amorese