“E de que adianta ter sempre razão, saber de tudo, se no fim o que nos resta é a solidão?”
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete... Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.Melhor é ouvir a repreensão do sábio, do que ouvir alguém a canção do tolo.Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é o riso do tolo; também isto é vaidade.Verdadeiramente que a opressão faria endoidecer até ao sábio, e o suborno corrompe o coração.Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito.Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira repousa no íntimo dos tolos.Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta. (Eclesiastes 7)
Taí um texto bíblico que sempre me intrigou... Como pode o autor do texto dizer que a mágoa é melhor que o riso? Como entender que a tristeza faz bem para o coração? Como compreender, que é melhor estar num velório do que em uma festa?
Até que um dia, por conta de nossa trajetória natural de vida, me dei conta de que passei a freqüentar mais os velórios... Os cultos fúnebres de uma hora para outra, começaram a se tornar mais freqüentes em minha rotina.
E passei a entender que quando vemos o fim da existência, onde a tristeza e a solidão é algo natural, somos levados quase que inevitavelmente á uma reflexão sobre o sentido de tudo isso.
Penso: Momentos de tristeza e solidão nos fazem crescer. Seja por lutos ou pelas lutas da vida.
Vinicius de Moraes e Baden Powell, ao comporem o “Samba da Benção”, disseram o seguinte em um dos versos: “Mas pra fazer um samba, um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não”.
Nietzsche também nos faz refletir sobre isso. Para o filósofo alemão, as pessoas de espírito livre, os amigos da sabedoria, sabem ser tristes e sozinhas. São por inteiros somente em sua solidão, que para o filósofo quer dizer interioridade, conhecimento de si mesmo, mascarando-se do mundo; São para si mesmos, uma coisa muito diferente do que são para o mundo, pois a opinião dos outros é sempre um equívoco e ele, o filósofo solitário, regozija-se disso. Nesse caso, o filósofo só pode ser feliz em sua própria solidão. Entretanto, essa solidão não significa isolamento. A solidão do filósofo é a solidão em meio à multidão, é sentir-se único e, portanto, é amar-se a si mesmo. Outro filósofo alemão chamado Erich Fromm, admite, falando de amor, que “só pode amar quem sabe ser só”, isso vai ao encontro daquilo que Nietzsche fala, pois só se pode amar aquele que ama a si mesmo – amar a si mesmo é ser livre, liberdade para Nietzsche é ser responsável por si mesmo. Ora, aquele que ama a si mesmo não quer usar o outro como meio para se perder, se aliviar, se alienar, muito pelo contrário, amar a outra pessoa é achar-se nessa pessoa, mas para isso, é preciso um reconhecimento de si mesmo, é preciso daquela solidão nietzschiana. A meu ver, é preciso desmistificar o problema da solidão, saber ser só é saber viver consigo mesmo. O desespero por companhia, o desespero por “amor”, é uma fuga de si mesmo, ter medo de se conhecer…(http://ensaius.wordpress.com/)
Podemos concluir disso que a solidão e a tristeza têm seu espaço em nosso dia-a-dia. Produz em nós uma qualidade de vida melhor que nos leva a um patamar mais elevado no viver. Parece ser isso que o autor do livro de Eclesiastes, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Nietzsche e Erich Fromm entenderam.
Que o digam os salmistas. Coletânea de canções bíblicas que só existem por causa das agruras de seus autores. Música da melhor qualidade.
José B. Silva Junior
c/contribuição do Pr. Elinaldo Pita
da I.B.M em Sta. Bárbara D’oeste.